Share, , Google Plus, Pinterest,

Print

Posted in:

Uma Luta Desigual

de Mimi Leder

mediano

Longe da riqueza de Frank Capra, e da acutilância dos message movies da era dourada de Hollywood, Uma Luta Desigual (On the Basis of Sex, 2018) de Mimi Leder conta uma versão de conto de fadas da saga de Ruth Bader Ginsberg pela igualdade de género no sistema legal norte-americano.

 

Há filmes que, para lá do seu valor cinematográfico, devem também ser vistos pela mensagem que encerram. Um desses casos, no que se poderia chamar a tradição dos velhinhos message movies dos anos 1930 a 1950 (um dos quais, ou o livro em que se baseia, é nele amiúde citado) é Uma Luta Desigual, que nos fala da saga de Ruth Bader Ginsberg, a advogada (hoje juíza do Supremo Tribunal nos EUA) que, na década de 1970, desafiou o sistema de leis norte-americano, ao denunciar as desigualdades de género nele inclusas, as quais eram tidas como “o que é normal” pelos poderes legislativo e judicial de então.

Retratando uma época (que vai da década de 1950 à de 1970) e incidindo sobre o que nesse tempo era ser mulher aspirante a uma carreira habitualmente seguida por homens, Uma Luta Desigual centra-se na visão e experiência pessoal de Ruth Ginsberg (Felicity Jones). Por isso, é a personagem de Felicity Jones que seguimos desde a primeira imagem do filme, e é das suas alegrias, vitórias e derrotas que o filme se faz, culminando na peça central que é o julgamento Moritz vs. Commissioner of Internal Revenue, que penalizava Charles Moritz em deduções fiscais, pelo facto de este ter declarado benefícios por tomar conta da sua mãe, quando esses benefícios eram apenas dirigidos a mulheres.

Capaz de arrancar alguns sorrisos de superioridade da nossa parte, por acharmos toda a argumentação do status quo tão retrógrada e quase pré-histórica, a distância temporal não nos deve fazer esquecer que não estamos assim tão longe daqueles tempos, quando, ainda hoje, as desigualdades são muitas, e qualquer tentativa de as apagar continua a parecer uma tarefa intransponível. Nesse sentido, Uma Luta Desigual, como um message movie deve ser, mais que um retrato de época ou espécie de biopic de figura de renome nos Estados Unidos, é um olhar bem actual para o que ainda falta fazer.

Tecnicamente sem problemas, num ritmo razoável, e cadências equilibradas entre tensão e exposição de acontecimentos, o filme de Mimi Leder peca exactamente por essa necessidade de ser bonitinho. À boa maneira de Hollywood, tudo nele tem de ser perfeito, e matéria de cartaz publicitário. Ruth tem sempre um sorriso de confiança; a sua família é a mais bela (até fisicamente) que possamos imaginar; o marido (Armie Hammer), além de advogado brilhante, partilha todas as tarefas domésticas com brio, é pai exemplar, e apoia Ruth para lá do imaginável; a única tensão familiar que vemos advém do normal generation gap, do crescimento da filha Jane (Cailee Spaeny), e termina em comovente união familiar à prova de tudo. E os maus, (Sam Waterston, Stephen Root e Jack Reynor) obviamente mostram-no a cada esgar, olhar ou sorriso cínico.

Finalmente, note-se que, apesar de à superfície o filme tratar da luta de uma mulher ímpar para corrigir desigualdades no sistema de leis norte-americano, há algo não menos importante que se esconde em Uma Luta Desigual: a crença cega dos americanos num sistema político que vêm como quase divino, e modelo para o mundo. E é isso que o filme nos quer fazer acreditar, isto é, que o sistema é tão perfeito que se corrige a si mesmo sempre que é necessário, e que a razão sempre será a base de todas as leis e instituições, como vemos nos sorrisos benevolentes dos três juízes velhinhos prontos a aceitar a argumentação da mulher mais jovem.

Afinal não se crêem eles a (única?) terra da liberdade, democracia e prosperidade? O filme de Mimi Leder sem dúvida que acredita nisso.

Review overview

Summary

Em jeito de filme “feel-good”, Uma Luta Desigual mostra-nos um episódio fulcral da luta contra as desigualdades de género, onde tudo é bonitinho e a razão triunfa sempre.

Ratings in depth

  • Argumento
  • Interpretação
  • Produção
  • Realização
2.5 10 mediano

Comentários