Entre os submundos criminais de Tarantino e Scorsese, Como Cães Selvagens é uma tentativa falhada de Paul Schrader de construir uma obra relevante num género onde já deu cartas como argumentista.
Paul Schrader é um nome que dispensa apresentações. Figura de proa da Nova Era de Hollywood nos anos 70, destacou-se sobretudo pelos argumentos que escreveu para Martin Scorsese, como Taxi Driver (1976), Touro Enraivecido (Raging Bull, 1980), A Última Tentação de Cristo (The Last Temptation of Christ, 1988) e Por Um Fio (Bringing Out the Dead, 1999) e de Brian De Palma, como Obsessão (Obsession, 1976).
Menos consagrado como realizador, Schrader conseguiu alguma projecção nos anos 80, com filmes como American Gigolo (1980), A Felina (Cat People, 1982) e Mishima (Mishima: A Life in Four Chapters, 1985), mas a sua carreira, depois disso, tem passado ao lado do grande público, com vários dos seus filmes a irem directamente para vídeo. É com esse estatuto de realizador quase esquecido que Schrader nos traz agora Como Cães Selvagens (Dog Eat Dog, 2016), a partir do livro homónimo de Edward Bunker, que este escreveu com base na sua experiência criminal que o levou a uma longa pena de prisão.
Votado às histórias de pequenos criminosos, Como Cães Selvagens mostra-nos os golpes e peripécias de três falhados, interpretados por Nicolas Cage (o cérebro e diplomata do grupo), Willem Dafoe (o cão raivoso sempre prestes a explodir) e Christopher Matthew Cook (o músculo, de poucas palavras). Juntos, num equilíbrio instável, vão partilhar momentos, preparar golpes e conviver com a difícil personalidade de cada um, quiçá tão letal quanto os perigos da profissão.
É este retrato realista que Schrader se propõe fazer, no que se torna uma espécie de parente pobre de Pulp Fuction (1994). Do filme de Tarantino está lá a violência, o olhar despudorado para o mundo do crime, e até personagens e diálogos inconsequentemente insanos. Falta a química, o humor, o ritmo, em suma, o saber soltar a história e agarrar o público. Partindo da matriz que lhe deu fama em Taxi Driver e Touro Enraivecido, Schrader tenta trazer-nos uma história de redenção no submundo sujo e amoral do crime, deixando que as interpretações (sobretudo Dafoe, sempre brilhante) a carreguem. Pontua-a depois com alguns toques de psicadelismo ligados ao consumo de drogas, onde mais uma vez Pulp Fiction e Por um Fio são referência, mas onde poderíamos lembrar-nos de Delírio em Las Vegas (Fear and Loathing in Las Vegas, 1998), de Terry Gilliam, e A Vida não é um Sonho (Requiem for a Dream, 2000), de Darren Aronofsky. Mas, pequenos apontamentos à parte, o filme resvala, e Schrader perde-se sem saber se tem entre mãos um thriller criminal, uma história de gangsters, um buddy movie de tom cómico, uma temática de redenção falhada ou uma exploração do mundo das drogas. Sabe apenas que quer mostrar algo cru, forte, sem analgésicos. Isso consegue, mas pouco mais.
Review overview
Summary
Explorando, entre o realismo e o psicadelismo, o submundo de pequenos criminosos, Paul Schrader tem nas interpretações de Nicholas Cage e Willem Dafoe os cartões-de-visita para um filme que parece sempre um parente pobre dos melhores Tarantinos e Scorseses.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização