AVISO: A CRÍTICA QUE SE SEGUE CONTÉM SPOILERS, PELO QUE NÃO DEVE SER LIDA POR QUEM AINDA NÃO VIU O FILME
Jack, de 5 anos, e a sua jovem mãe, de 24, vivem há anos prisioneiros num pequeno quarto, sendo visitados todas as noites por um homem que lhes fornece os mantimentos indispensáveis à sobrevivência e usa a mãe de Jack para fins sexuais. Tendo nascido já naquele local, fruto de uma das repetidas violações sofridas pela mãe, Jack nada sabe sobre o mundo exterior, excepto aquele que vai vendo diariamente na televisão, ou que vislumbra ocasionalmente através de uma clarabóia instalada no topo do Quarto que, para o rapaz, é todo o Mundo que conhece – a sua realidade.
Quarto é um filme claramente dividido em duas partes distintas, sendo que na primeira delas estamos confinados ao interior do pequeno quarto e, assim que as personagens escapam, temos uma maior variedade de localizações. Infelizmente, Lenny Abrahamson, realizador do altamente sobrevalorizado Frank, não se revela particularmente engenhoso na forma como aborda visualmente essas duas realidades. Talvez com receio de alienar o seu público, Abrahamson usa e abusa de planos e pontos de vista distintos, tal como Danny Boyle fez em 127 Horas (2010), numa tentativa desesperada de conferir dinâmica na edição, acabando por ignorar a dimensão espacial do seu cenário, particularmente importante num filme como este, onde nunca se chega a sentir verdadeiramente qualquer claustrofobia.
A cena da fuga acaba por se revelar um dos pontos altos: há um set up suficientemente trabalhado para aumentar o suspense, ou seja, uma ideia de plano de fuga bem definida para que, quando nem tudo corre exactamente como o pretendido, o espectador se sinta assustado – ainda assim, fica a sensação de que podia ser ainda mais trabalhado, ainda mais esticado. Seja como for, passados esses momentos, tudo depressa se transforma num banal drama familiar que pretende ao mesmo tempo manter a doçura de um inocente ponto de vista infantil, e mergulhar nos traumas das personagens mais adultas. A tentativa de transformar e ampliar a ideia de Mundo de Jack é também ela bastante tímida, e mais uma vez Abrahamson não revela a imaginação ou a inspiração necessarias para nos arrebatar. Há uma vaga exploração do conceito de que o ser humano tem a tendência para se aprisionar em espaços fechados como resposta a um Mundo opressor, mas abordada sem grandes consequências, só nos restando imaginar o que Spielberg (especialmente o dos tempos de E.T. – O Extra – Terrestre, em 1982) faria com este material…
Uma palavra final para os actores, com destaque especial para o pequeno Jacob Tremblay que, como Jack, tem aqui uma das mais extraordinárias interpretações por parte de uma criança que vimos nos últimos tempos. É no seu olhar inocente que está o coração de um filme demasiado acomodado, e a sua relação diante das câmaras com Brie Larson, que dá corpo à mãe, merece sem dúvida um destaque. Joan Allen é outro dos pontos altos da película, ao contrário do sub aproveitado William H. Macy, despachado de forma ingrata depois de 5 minutos de participação. Talvez faça as delícias dos espectadores mais sensíveis, mas ficam as reservas de que irá perdurar por muito tempo na mente dos espectadores.
Review overview
Summary
Uma bela ideia desaproveitada por uma concretização pouco inspirada, que os actores resgatam da completa desilusão.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização
