Em Green Room acompanhamos os It Ain’t Rights, uma banda punk jovem formada por Pat, Reece, Sam e Tiger, à procura de oportunidades de tocar ao vivo no noroeste americano. Depois de verem as suas expectativas defraudadas por Tad, este tenta compensá-los com a marcação de um concerto, no que se vem a revelar um bar de skinheads neonazis. Apesar do desconforto da banda, e de algumas provocações, tais como abrir o concerto com uma versão de “Nazi Punks Fuck Off”, dos Dead Kennedys, lançam-se numa performance dedicada e apreciada pela difícil audiência. Quando, depois do concerto terminado, e enquanto se dirigem para a saída, assistem a um hediondo crime na sala verde do estabelecimento, vêem-se encurralados na mesma na precipitação dos acontecimentos, impedidos de sair por um bando de skinheads no exterior. Quando Darcy, o líder do grupo, é chamado ao local, numa inesperada e aterradora interpretação de Patrick Stewart, as coisas complicam-se para os elementos da banda.
Green Room é um upgrade de Ruína Azul em todos os sentidos. Não só o orçamento é maior como é mais ambicioso. No elenco encontramos o malogrado Anton Yelchin como Pat, que se revela como o relutante líder do grupo, e os fãs de Arrested Development – De Mal a Pior reconhecerão Alia Shawkat como Sam. Além disso, Imogen Poots tem um papel de destaque, bem como o referido Macon Blair, amigo pessoal de Saulnier, e que regressa aqui num papel secundário, mas decisivo, ou Mark Webber, de Scott Pilgrim Contra O Mundo. Mas o destaque tem de ir inteirinho para Patrick Stewart que, em completo contraciclo dos populares Capitão Picard ou Professor X a que estamos habituados, encarna o tenebroso Darcy, tão mais ameaçador quanto composto e aparentemente conciliador e civilizado. É uma interpretação insidiosa porque retrata uma personagem cerebral e em completo controlo da situação, avaliando, decidindo e agindo sem remorso ou consciência.
Esta é uma experiência tensa e emocionante e um dos trunfos de Saulnier é o dispensar quase completamente de diálogos de exposição. Ao sonegar do espectador informação de base, ou justificações para as motivações, este fica em pé de igualdade com os elementos da banda encurralados, verdadeiros peixes fora de água. Além disso, o mundo em que nos vemos envolvidos aparece-nos totalmente formado e vivido ou, noutra palavra, verosímil. Mesmo não percebendo inteiramente o que se passa, os “comos” ou os “porquês”, somos testemunhas das consequências das terríveis acções das personagens. Ajuda o facto de não serem feitas quaisquer concessões para efeito dramático, nem de Saulnier estar preocupado com as regras do género. Apesar das diferentes reações das personagens perante o realidade que enfrentam, resultado das suas diversas personalidades, as suas decisões fazem sentido no contexto da situação, nunca ninguém se portando como um número para ser contabilizado no balanço de vítimas do filme. O facto de que mesmo as boas decisões resultarem em desfechos trágicos é o reflexo da inevitabilidade do braço-de-ferro em que as duas facções se encontram.
Green Room não é um filme para estômagos fracos. É tenso e implacável. Filmado com apurado sentido estético é, no entanto, um filme assumido de género, e é melhor por isso. Embora tematicamente pisque o olho à artificialidade da pose e da pretensão, colocando os elementos da banda numa situação extrema que os confronta com a severidade de uma ameaça real, Green Room está mais interessado em nos envolver de forma visceral na tensão das suas cenas, construindo-as de forma metódica e clínica. Chegados ao final há uma sensação de vazio e, possivelmente, será essa a intenção do autor. Já diziam os Mão Morta, parafraseando: a violência tem um crescendo, começa por nada, acaba com tudo, e o que era lógico, fica absurdo.