Podem as partes valer mais do que o todo? “Zombieland: Double Tap” (Zombieland: Tiro Duplo) utiliza alguns dos ingredientes dos “road movies” e a busca que Tallahassee (Woody Harrelson), Columbus (Jesse Eisenberg) e Wichita (Emma Stone) efectuam para encontrarem Little Rock (Abigail Breslin), tendo em vista a colar uma série de episódios onde o humor domina e os zombies surgem em quantidade assinalável. Alguns desses fragmentos resultam em momentos dignos de atenção. Outros perdem-nos pelo cansaço e pela insipidez. No entanto, o argumento raramente apresenta consistência como um todo. A busca pela personagem interpretada por Abigail Breslin não conta com um verdadeiro sentimento de urgência, os mortos-vivos parecem capazes de infectar ou petiscar quase tudo e todos com excepção do quarteto mencionado, embora muitos dos problemas da película sejam esbatidos graças à química entre os intérpretes e a uma hábil construção de diversos gags ou a um ou outro trecho dotado de inspiração. Tal como no primeiro filme, uma música dos Metallica abre as hostes, enquanto assistimos aos quatro elementos a eliminarem os inimigos. Pouco depois, dirigem-se para a Casa Branca, um palco que permite adensar a peculiaridade que permeia as dinâmicas desta espécie de família disfuncional. A relação de Columbus e Wichita atravessa uma fase delicada. Little Rock quer mais liberdade e conhecer pessoas da sua idade. Tallahassee continua igual a si próprio, ou seja, tresloucado e espalhafatoso.
Uma parte considerável dos intérpretes consegue manter vivo o nosso interesse nos personagens. Jesse Eisenberg a inserir um estilo nervoso, focado e sardónico ao seu Columbus, um elemento feito à sua medida. Emma Stone a incutir uma postura dura e pragmática à sua Wichita. Woody Harrelson a ser… Woody Harrelson. A Abigail Breslin cabe contar com os fragmentos mais sensaborões. A juntar-se a estes elementos temos um número considerável de novos personagens, bem como um regresso para uma cena pós-créditos dotada de um tom picaresco (que, por si só, vale o preço do bilhete). Uma das estreantes que acompanha o trio formado por Tallahassee, Columbus e Wichita é Madison (Zoey Deutch), uma loira pouco inteligente e fútil que se envolve com o segundo e apresenta uma enorme habilidade para irritar o primeiro e a terceira. Zoey Deutch exibe alguma capacidade para aproveitar o potencial humorístico da personagem, ainda que aos poucos os comportamentos desta Paris Hilton de trazer por casa comecem a despertar mais cansaço e irritação do que risos. Quem tem pouco tempo de cena e, talvez por isso, não cansa são Luke Wilson e Thomas Middleditch como dois “duplos” dos elementos interpretados por Harrelson e Eisenberg. Já Avan Jogia é o elo mais fraco como Berkeley, um hippie que desperta a atenção de Little Rock. A falta de textura deste pacifista é notória, tal como a incapacidade dos envolvidos a estabelecer qualquer química entre Jogia e Breslin.
Outra debutante que também entra na pancadaria é Nevada, com Rosario Dawson a mostrar química com Harrelson e um à vontade natural a dar carisma e firmeza a esta guardiã da casa de Elvis Presley, o ídolo de Tallahassee. A habitação do “rei do Rock” e a sua decoração também são utilizados quer em situações de leveza, quer de acção. É no quesito de criar uma sensação de ameaça que “Zombieland: Double Tap” raramente convence. Temos novas espécies de zombies, alguns deles mais rápidos e resistentes (como os T-800), outros bastante idiotas (os “Homers”), algo que permite fugir um pouco ao contexto apresentado no primeiro filme, ainda que estes seres raramente provoquem “mossa” nos protagonistas. É certo que um ou outro trecho de acção funciona, sobretudo um a envolver um monster truck, ou um duelo em pleno lar de Elvis Presley, mas é muito pouco para aquilo que é prometido. Ruben Fleischer volta a assumir a batuta de realizador, mas a espaços parece perdido num mar de ideias vazias que teimam em não fazer esquecer o quanto o primeiro filme era mais simples e eficaz no cumprimento dos seus propósitos.
O que também se mantém em relação a “Zombieland” são os cenários pós-apocalípticos e a química entre os personagens principais. Note-se as trocas de diálogos sardónicos entre Wichita e Columbus, ou a ligação que este mantém com Tallahassee. Diga-se que algumas das falas deixam um sabor amargo a quem espera algo acima da média ou minimamente a fugir aos lugares-comuns. Não falta um repetido “it’s gonna be a long ride”, ou um discurso sobre a família e o que significa um lar que fazem os diálogos de Dominic Toretto sobre o tema parecerem algo digno de um vencedor do Man Booker Prize, ou uma tentativa excessiva para trazer o humor para tudo quanto é sítio (mesmo nas situações aparentemente mais sérias ou que pedem um maior envolvimento emocional). A espaços é notório que existe uma tentativa de exibir irreverência, seja nos cenários que são utilizados ou na procura de ironizar com as repetições de falas de um filme para o outro, ou na quebra da quarta parede. Um atrevimento que se esbate diante da sensação de familiaridade em relação a tudo o que estamos a ver, ainda que “Zombieland: Double Tap” proporcione alguns momentos de moderado escapismo.
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