Como se perspetiva o último filme dos X-Men nas mãos da FOX?
Falar do filme deste filme de Simon Kinberg, X-Men: Fénix Negra, implica um esforço adicional e uma consideração bastante importante: este é o filme que encerra quase 20 anos das histórias X-Men pela FOX. Mas até que ponto esta despedida é digna? Como é que se comporta este 12º filme?
A resposta poderia ser simples, mas tenho de recorrer a uma fórmula mágica de escrita: Conflito + Ação = Resolução, para vos explicar. Para conseguir perspetivar aquilo que foi feito pelos argumentistas…
A história começa por recuar no tempo ao mostrar como foi o evento trágico da infância de Jean Grey e de como este trauma a moldou na jovem que ela viria a ser. Claro que o acidente trágico, sendo um gatilho para poderes ainda incompreendidos, levaram a que o famoso professor Xavier (James McAvoy) escudasse a sua mente destas emoções tão vincadas. A história decorre assim de forma brilhante, com um bom argumento e diálogos bem construídos, baseado naquilo que sempre foi o diferenciador da saga: a forma como liga a emoção das personagens. Por meio de outro salto temporal damos novamente cara com a equipa tal e qual a conhecemos, com uma Jean mais velha (Sophie Turner), Ciclope (Tye Sheridan), Tempestade (Alexandra Shipp), Velocista (Evan Peters), Mística (Jennifer Lawrence) e a Besta (Nicholas Hoult). Esta equipa vai ajudar a resgatar astronautas que se depararam com uma matéria cósmica desconhecida, em que a nave perdeu o controlo. Após o pedido de ajuda vindo diretamente do Presidente Americano, a equipa parte para o espaço onde, com sucesso, consegue resgatar todos os elementos. Porém, ao faltar um, Jean, sendo a mais poderosa para controlar a desintegração da nave, acaba por ir para a nave, sacrificando-se a absorver a matéria cósmica de forma a salvar, quer humanos, quer X-Men. A partir deste momento segue-se um conjunto de festejos e preocupações quanto ao estado de Jean, que assustara todos ao acreditarem que tinha morrido ao absorver a matéria desconhecida.
Por esta altura do filme um elemento extraterrestre entra na atmosfera da terra, aprendendo rapidamente a língua e usando corpos humanos como forma de disfarce. É aqui que recai todo o meu destaque no filme, ao fantástico papel desempenhado pela atriz Jessica Chastain. Ela foi sem dúvida o melhor elemento do filme, como uma atuação e argumento bem escrito para a sua personagem. Contudo, e por mais que a realização seja feita com perícia, a parte central do filme é completamente caótica. Atendendo ao clima que os argumentistas colocaram no início da trama, seria de esperar uma evolução crescente até chegar à resolução. Porém, os elementos de conflito usados repetem tanto o já criado em X-Men 3, com diálogos já gastos e desajustados às personagens, que se tornou penoso de se ver ou não cair no aborrecimento.
Para quem viu Sophie Turner crescer na série Guerra dos Tronos, a sua atuação foi uma completa desilusão, fruto de elementos textuais e ambientes da história clichés e sem a vontade de tentarem algo de diferente. Na verdade, o segundo ato do filme parece todo ele voltado para dar ao telespetador efeitos especiais em momentos de ação um pouco desproporcionais. Tempo é o fator crucial, e foi algo que se falhou em conseguir. Jean nesta segunda parte do filme compreende como os seus poderes são crescentes e ferem as pessoas que se aproximam dela. Nesta altura, esta apercebe-se como o professor Xavier criou barreiras na sua mente a respeito da sua infância, o que a leva a uma descrença completa na família X-Men que a acolheu.
Esta descobre o paradeiro do seu pai – julgado morto – para dar-se conta de que este nada quer com a mutante. Neste momento de confronto e conflitos internos, criando uma personagem completamente bipolar, Jean mata acidentalmente a mítica personagem Mística, levando-a a ir procurar auxílio com o “agora bom mutante”, Magneto (Michael Fassbender). Neste pedido de ajuda, em que Jean tenta perceber como controlar a sua raiva, oculta a morte da Mística a Magneto, obtendo dele um confronto para que esta se liberte da sua confusão. Este momento é interrompido por forças militares que procuram Jean pelos estragos que fez no bairro do seu pai, servido este momento do filme para a demonstração de mais efeitos especiais sem razão aparente. É neste momento que a prestação e argumento levam a uma Sophie Turner completamente perdida, sendo penoso de assistir.
Após estes confrontos internos e externos ficamos a conhecer verdadeiramente a raça Vuk (a atriz Jessica Chastain), que conta a Jean que estavam a observar o momento cósmico a que esta foi sujeita, e que essa força é na verdade capaz de tanto criar planetas e vida, como destruir. Nesta altura percebemos que os Vuk querem utilizar a Terra para esse propósito, deixando Jean confiante em si e nos seus poderes. A introdução desta vida extraterrestre no filme é completamente desproporcional ao ambiente do filme, em que parece que ninguém no planeta deu conta da sua entrada na atmosfera, assim como a uma falta de interesse dos próprios X-Men. A própria raça é vista inteiramente com pele humana até ao final do filme, levando a que nenhuma das personagens e público se volte a aperceber do seu verdadeiro aspeto. O argumento do filme leva-nos nesta altura por um conjunto de confrontos entre equipa do Magneto e equipa do professor Xavier na morte e salvação de Jean, motivados pela morte de Mística. Este momento é bastante tosco, com uma ação a tender para o desproporcional e com uma má coreografia de algumas personagens. Nesta altura compreende-se como elementos passados, tanto do presente filme, como anteriores, são ignorados. Um exemplo disso é a ausência da personagem do Velocista, que nem a uma explicação convincente teve direito.
Após a resolução de diversas convergências e de Jean libertar todo o seu poder, esta entra na mente de Xavier para compreender como ela ainda tem uma escolha relativamente ao uso que dá às suas habilidades. Confrontada com a falta de controlo, esta oferece o seu poder ao elemento da raça Vuk, mas é interrompido pela confissão de que a raça humana deixará de existir após a transferência estar completa.
Entrando na parte final do filme, os argumentistas pareceram voltar a importar-se com a narrativa, dando-nos momentos de ação bem feitos e com um argumento que permite uma brilhante atuação de Sophie Turner. Porém, se o crescimento de ação foi notório, o final da mesma foi desapontante, com uma ênfase desnecessária a efeitos de câmara lenta que poderia ter antes dado lugar a uma história mais nutrida. Jean acaba por se sacrificar, a raça Vuk desaparece de vez, e as personagens deparam-se com tristeza, potenciando um novo recomeço. O final do filme foi dos elementos mais bonitos em questões de continuidade, com um professor Xavier na reforma e um Magneto que faz as pazes com o seu velho amigo usando um tabuleiro de xadrez (X-Men 3).
É por meio desta conclusão que o espetador dá conta de que este é o último filme dos X-Men nas mãos da FOX e, muito sinceramente, um em que os espetadores rapidamente esquecerão. Apesar da boa realização e prestações aceitáveis, a banda sonora de Hans Zimmer é o único ponto forte da trama, dando-lhe singularidade num filme cheio de repetições e diálogos plásticos. Sendo que o realizador de X-Men 3: O Confronto Final (2006) é o mesmo que esta adaptação das comics da Fénix Negra, talvez possa ser justificável, mas o argumento prova-me que só haverá uma Jean Grey, e essa será a interpretada por Famke Janssen.
Crítica assinada por Diogo Simões, leitor da Take Cinema Magazine e autor dos livros ‘O Bater do Coração’ e ‘Esquecido’
Review overview
Summary
A Fox e os argumentistas tentaram, mas nem o elenco de luxo ajudou para salvar o destino de um filme há muito aguardado….
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização