Terá o cinema moderno lugar para um snip-off de Velocidade Furiosa?
Quando Velocidade Furiosa: Hobbs & Shaw foi anunciado, parte de mim estava empolgado. Afinal de contas, teríamos personagens tão bem marcadas na saga Velocidade Furiosa, interpretados nada mais, nada menos, por Dwayne Johnson e Jason Statham. Todavia, se esta curiosidade existia no decorrer de todo o material promocional divulgado, quando assisti no grande ecrã, as coisas mudaram de figura…
A história, em si, de complexa, nada tem. Segue a personagem brilhantemente desempenhada por Vanessa Kirby enquanto lida com um agente biológico transformado em arma, sendo perseguida pelo vilão da narrativa, interpretado por Idris Elba. Por meio de perseguições bem engendradas e efeitos visuais únicos na saga, a história prossegue com basta fluidez e até alguns momentos inspirados em cenas de ação dos filmes Transformers. Na verdade, toda a ação parece passar-se num plano futurístico, perante tamanha inovação – algo que pode contrastar com filmes da saga original. Porém, as diversas perseguições e cenas de ação corpo-a-corpo conseguiram brilhar pela sua singularidade, algo ajudado, não só por uma banda sonora envolvente, como por uma realização astuta e enérgica.
A fazer a ponte entre os protagonistas da narrativa, está a surpresa da personagem de Ryan Reynolds. O ator é introduzido de forma “aldrabona” na narrativa, desempenhando um agente do FBI que coloca Hobbs corrente do desastre iminente com o agente patológico. Os diálogos criados para a personagem parecem ter sido retirados de Deadpool, conseguindo ser confusos e irrisórios. Não consegui compreender a necessidade de ter o ator em questão num filme com uma base de fãs tão grande. A resposta poderá estar no facto de tanto Hobbs & Shaw como Deadpool partilharem do mesmo diretor: David Leitch. O que é certo é que o ator nem aparece listado como fazendo parte do filme, e uma grande parte de mim, desejou que não fizesse mesmo.
O pilar “família” continua a ser dos mais realçados no meio de todos os diálogos e que compõem a inspiração para a narrativa. Todavia, algumas cenas acabaram por parecer recicladas da saga original, e alguns momentos eram como que embaraçosos de assistir perante personagens tão imaturas e incapazes de mostrarem mais poder na sua personalidade. Isto é notório no ato final, com Hobbs e Shaw a trabalhar lado a lado, como se tivessem sido sempre irmãos e sem qualquer tipo de divergência. Dwayne Johnson não pareceu diferente dos seus outros filmes, o que acaba por ser desapontante nas diversas interações com Statham. É, sem dúvida, Vanessa Kirby que salva a história, quer por meio da sua elegância em frente às câmeras, como por o argumento conseguir fazer jus à sua personagem e crescimento.
Este crescimento é evidenciado quando o filme se sustenta na importância do perdão dos nossos familiares e o aceitar das escolhas que fazemos. Ficamos a conhecer a história passada da personagem Hobbs e das suas raízes. Com uma família completamente diferente da sua personagem, é ela que ajuda o triângulo de protagonistas na luta contra o vilão de Idris Elba, brilhantemente desempenhado e original. A sua personalidade e atuação conseguem manter o espectador atentos e curiosos perante as suas motivações, assim como de quem as planeia com tanto afinco. É este vilão invisível que rouba o suspense no segundo ato, intensificado com o final escolhido para esta primeira aventura da dupla.
O final do filme consegue sustentar o ambiente e o espírito do espectador para possíveis sequelas, resta saber se os argumentistas terão a capacidade de criar algo com mais substância e que consiga mostrar um crescimento mais notório nas personagens.
Crítica assinada por Diogo Simões, leitor da Take Cinema Magazine e autor dos livros ‘O Bater do Coração’ e ‘Esquecido’
Review overview
Summary
Hobbs & Shaw poderia ter inovado na narrativa e crescimento pessoal, não deixando com isto de ser um ótimo filme de ação e com a ligeireza que a saga Velocidade Furiosa já nos habituou…
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização