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The Incredibles 2: Os Super-Heróis

de Brad Bird

muito bom

The Incredibles 2: Os Super-Heróis é a sequela que tenta recuperar o espírito retro do filme original de 2004 em que assistimos ao regresso dos incríveis super-heróis da Pixar pela mão de Brad Bird.

 

The Incredibles – Os Super Heróis constituiu em 2004 um risco para a Pixar. À data, foi o seu filme mais longo e complexo, mas o resultado final é um triunfo que cresce com repetidas visualizações. Este é um exemplo daqueles títulos que encantam miúdos ao mesmo tempo que oferecem algo para os graúdos. Encerra conceitos que exploram a crise de meia-idade e ansiedades parentais, bem como ideias complexas como as expectativas da sociedade em relação aos papeis que se desempenham em função do género. Pelo meio de uma trama de espionagem há também tempo para o desenvolvimento de temáticas de identidade e de afirmação pessoal num contexto de estrutura familiar e da sua importância para a preparação de uma criança para encarar o mundo externo a esse núcleo seguro.

Nos catorze anos que se passaram desde a estreia de The Incredibles – Os Super Heróis muita coisa mudou. A Pixar produziu várias sequelas, com resultados de qualidade variável, e deixou de ser um estúdio com uma taxa de sucesso imaculada — feito impossível, em abono da verdade, ao fim de vinte e dois anos e dezanove longas-metragens. Entretanto, Brad Bird, que ofereceu-nos o sucesso de 2007, Ratatui, aventurou-se na realização de filmes de acção real com um capítulo decente da série Missão: Impossível, Protocolo Fantasma, antes do fiasco de bilheteira em 2015, Tomorrowland – Terra do Amanhã, um filme com recepção morna que muita gente não chegou a ver — permitam-me neste ponto só um parêntesis: ainda está para se fazer um estudo da responsabilidade da mão do Damon Lindelof no fiascos de projectos promissores, mas deixarei isso para outra oportunidade. Na ressaca deste projecto, foi anunciado o retorno de Bird à realização para o estúdio de animação, onde nunca deixou de colaborar como consultor criativo, para produzir uma sequela do sucesso de 2004. Tendo expressado desde sempre a vontade de dar continuidade à história original, o realizador, também responsável solitário pelo argumento, enfrentou o desafio de oferecer uma narrativa nova e refrescante a um mundo em ponto de saturação de super-heróis.

A primeira surpresa é que The Incredibles 2: Os Super-Heróis — título em português confuso, complicado pela tradução original — arranca no momento exacto da cena final do anterior, caso raro em sequelas, aqui tornado possível por ser uma animação. Quando a tentativa da família Parr — Bob, Helen, Dash, Violet e Jack-Jack, ou, em português, Beto, Helena, Flecha, Violeta e Zezé — de impedir o Underminer de roubar o banco da cidade falha, as autoridades ficam preocupadas com o nível de danos causado pelo incidente. Somos rapidamente relembrados que os super-heróis, apesar dos acontecimentos do primeiro filme, continuam na clandestinidade, e Rick Dicker informa a família Parr que o Programa de Realocação de Super-Heróis do seu departamento vai ser desativado, forçando os super-heróis de todo o mundo a aderir permanentemente às suas identidades secretas. Entretanto, Bob e Helen, juntamente com o amigo da família Lucius/Lúcio— o super-herói Frozone/Gelado — são contatados por Winston Deavor, um fã de super-heróis, magnata das telecomunicações e proprietário da DEVTECH. Winston e a sua irmã Evelyn, a genial inventora por trás da tecnologia da companhia, propõem um golpe publicitário para reconquistar o apoio e a confiança do público nos heróis de licra escondidos do público. Helen é escolhida para liderar o projecto, deixando Bob desconfortável por ser preterido, remetido a tarefas domésticas e a cuidar das crianças.

The Incredibles 2: Os Super-Heróis consegue a proeza de manter o charme do original, não o chegando a igualar verdadeiramente. Para efeitos de construção de conflito dramático na narrativa, há um ligeiro retrocesso no crescimento que as personagens tinham conseguido no final do filme anterior, para depois haver algumas repetições temáticas que balançam timidamente entre serem ecos desses temas ou repetições pouco originais. A inversão mais satisfatória acaba por ser aquela em que Helen é a escolhida para encabeçar o plano dos irmãos Deavor — duas personagens onde apenas uma bastava, a denunciar um pouco a direcção da história. Ao ser a mulher do casal a partir em missão, é ao homem da casa — o antiquado chefe-de-família que providencia enquanto a mulher toma conta dos filhos — que cabe agora tratar das tarefas domésticas, responsabilidade subvalorizada pelo próprio à partida.

Como é apanágio das sequelas, Bird reaproveita os elementos mais populares do primeiro filme, colocando-se novamente na pele de Edna para duas curtas e económicas cenas, e aumentando exponencialmente o factor cómico com as atribulações de Jack-Jack enquanto a família descobre os super-poderes do bebé dos quais tínhamos tido um vislumbre na cena final do título anterior — embora quem tenha visto a curta Jack-Jack Attack (2005) tenha tido uma demonstração cabal dos mesmos. Dash e Violeta repetem os mesmos momentos narrativos pelos quais já tinham passado — que oferece ao rapaz uma das muitas tiradas bem-humoradas do argumento enquanto a rapariga volta a lidar com as ansiedades do namoro: “Ela está a sofrer de adolescência?”. Se a escrita se ressente um pouco é no desenho do vilão Screenslaver (Raptor de ecrãs, para quem viu a versão portuguesa) e das suas motivações, oferecendo uma mensagem anacrónica que visa a falta de atenção e o marasmo da população em geral, nomeadamente pela utilização excessiva de ecrãs — anacrónica porque relembro que a narrativa deste filme se passa na década de sessenta, enquanto que o filme parece querer dialogar com uma questão moderna e actual, e insatisfatória porque é dispensada num diálogo de uma cena de exposição ao invés de ser explorada visualmente na história. Pelo contrário, a utilização dos super-heróis de segunda linha como aliados da iniciativa dos protagonistas é um elemento enriquecedor e orgânico aos acontecimentos do filme anterior, onde o vilão partiu numa missão para eliminar todos os super-heróis mais populares, sobrando figuras com poderes de variáveis utilidades como, por exemplo, Reflux, um herói mais idoso cujo reflexo estomacal é o seu super-poder, ou Voyd, uma fã de Elastigirl com o poder de abrir portais inter-dimensionais.

Apesar de alguma repetição temática do filme anterior e de se perder um pouco daquele charme de espionagem retro invocativa dos títulos originais do James Bond, The Incredibles 2: Os Super-Heróis mantém a fasquia muito elevada e oferece momentos de boa disposição e de acção entusiasmante que divertirão mesmo os mais pequenos alheados dos conceitos adultos introduzidos por Brad Bird, que volta a produzir um título maior para a Pixar com potencial para voltar a encantar tanto miúdos como graúdos.

Review overview

Summary

The Incredibles 2: Os Super-Heróis mantém a fasquia muito elevada e oferece momentos de boa disposição e de acção entusiasmante que divertirão mesmo os mais pequenos alheados dos conceitos adultos introduzidos por Brad Bird, que volta a produzir um título maior para a Pixar com potencial para voltar a encantar tanto miúdos como graúdos.

Ratings in depth

  • Argumento
  • Interpretação
  • Produção
  • Realização
3.5 10 muito bom

Comentários

Written by António Araújo

Cinéfilo, mascara-se de escritor nas horas vagas, para se revelar em noites de lua cheia como apaixonado podcaster.

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