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Tenet

de Christopher Nolan

mau

Christopher Nolan, o maior ilusionista de Hollywood, fez o seu truque menos convincente. Tenet é um filme que, como é apanágio do realizador, quer ter tudo lá dentro: ciência, romance, humanismo, filosofia, acção e emoções fortes. Mas nunca como agora vimos o método nolaniano a expor as suas fraquezas em todo o seu esplendor. Desta vez nem o lado visual ajuda a esquecer isso, nem há uma mínima coerência no que vemos que justifique, sequer, uma atenção elevada ao que vai acontecendo.

 

Pedia-se, pelo menos, um divertimento ligeiro, mesmo que tivesse os tiques do costume (A Origem ainda é o exemplo mais recente em que o método de Nolan funciona melhor). Mas nem isso este Tenet consegue ser: mergulhado no seu próprio caos de fragmentos de narrativas, personagens e peripécias ao longo de duas horas e meia, nada mais é do que uma constante canseira que não tem ponta por onde se lhe pegue. A acção palpitante e a necessidade de criar tensão a todo o momento funciona mais para a anedota do que para a verdadeira eficácia, neste filme de James Bond sem alma, com a mesma patetice que um dos piores filmes dessa saga e, ao mesmo tempo, uma seriedade que só funciona para rir não intencionalmente.

 

Todos os defeitos de Nolan são aqui elevados ao cubo, num filme em que ele parece assumir uma versão desastradamente paródica de si mesmo: desde as personagens sem muito interesse ao amontoado de diálogos pseudo-científicos, passando pela “confusão” transmitida por uma trama “cerebral” que pouco ou nada tem de realmente complexo, em que as regras do jogo são esticadas até ao limite para que, no fim, o coelho saia da cartola de forma arrebatadora sem que nenhuma pessoa possa denunciar que, durante o espectáculo, o mágico foi trocando de cartola várias vezes. Dirão que tudo isto é habitual no realizador. Mas aqui não há nada que o salve. A “magia” já nem se dá ao trabalho de convencer os iludidos, simplesmente existe e espera que os espectadores façam alguma coisa com ela.

Tenet (2020)

 

Os filmes do realizador rodeiam-se de um enorme burburinho e secretismo. Não se podem revelar detalhes da narrativa, os ditos spoilers, para não infectar a experiência dos futuros espectadores de Tenet. A pergunta é? Que spoilers? Ou que narrativa existe neste filme, a não ser um amontoado de ideias anexadas umas às outras com fita cola de qualidade duvidosa? É impressionante como, em 150 minutos de filme, nada é realmente desenvolvido a não ser à superfície. Até para Nolan, Tenet é um filme demasiado preguiçoso e incongruente. A empreitada parece, aqui, ter sido denunciada por si própria. Já não há forma de ficar deslumbrado com Nolan e esquecer as costuras do seu método, que ao longo do filme nunca deixam de se evidenciar. 

 

A exposição ocupa uma grande parte do tempo de filme, levando personagens e situações a eito de uma forma nunca antes vista em Nolan. Não há uma mínima preocupação em tornar aquelas ideias de ficção científica em mais do que isso – ficam, assim, ali a pairar no ar, à espera que alguém faça delas uma interpretação de complexidade. Tenet parece daqueles jogos de tabuleiro demasiado complicados para que se possam jogar duas vezes da mesma forma, porque nunca ninguém sabe realmente as regras. O habitual gimmick do realizador, levado às últimas consequências, põe a nu os defeitos da empreitada e da megalomania de produção. É caso para dizer que a montanha pariu um ratinho que está confuso em relação ao contínuo espacio-temporal em que se encontra.

 

Talvez o tom das linhas anteriores pareça excessivamente negativo tendo em conta que Tenet não é a pior coisa do universo. Há uma ou outra nota positiva a tirar daqui – a sequência inicial é a única que funciona, mas é pena que, depois de até abrir com eficácia, o filme não consiga voltar a entusiasmar realmente até aos créditos finais. E Elizabeth Debicki é uma excelente actriz independentemente da personagem de papelão que tenha de interpretar). 

 

Tenet (2020)

 

Mas no caos de intrigas que não levam a lado nenhum, Tenet acaba por ser uma experiência sensorial cansativa, repleta de estímulos mas que não transmitem, realmente, qualquer coisa proveitosa para o espectador, não passando por isso de um filme da mais fraca mediania – e tendo em conta todo o aparato e o dinheiro aqui investido, esperava-se uma coisa melhor. Nem os fãs de Nolan (pelo menos uma boa parte) poderão ficar apaixonados por um filme que, tendo tantas viagens no tempo, custa muito a passar. É possível voltar atrás e investir as duas horas e meia noutra sugestão mais proveitosa?

 

 

Review overview

Summary

Tenet é a última empreitada de Christopher Nolan e um filme de acção sem chama.

Ratings in depth

  • Argumento
  • Interpretação
  • Produção
  • Realização
2 10 mau

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