Todos nós temos uma ideia intuitiva do que é o cinema softcore, quanto mais não seja por oposição ao cinema pornográfico hardcore. Essa ideia intuitiva define softcore como um tipo de cinema apostado em causar estimulação erótica no espectador, explorando temas e situações claramente sexuais, usando a nudez (total ou parcial), mas não mostrando explicitamente o acto sexual, mantendo os orgãos genitais cuidadosamente escondidos por ângulos escolhidos, por outras partes do corpo ou pelo cenário.
Considerando esta definição lata, há muito softcore no cinema moderno, penetrando (passe o trocadilho) os mais variados géneros, do romance ao thriller, da comédia ao terror. Interessa-nos aqui, no entanto, aprofundar um momento da história do cinema, em que foi criado um conjunto de filmes que tinham como tema a exploração sexual, geralmente do ponto de vista feminino, em histórias onde o sexo era tema único, e os valores de produção decretavam uso de cenários elaborados, paisagens exóticas, e ambientes glamorosos.
Pode dizer-se que, sem grandes excepções, até meio do século XX, o sexo só surgiu no cinema de modo muito velado, entre insinuações cuidadas, e uma sugestão quase subliminar. Mas a partir dos anos 50, por exemplo com E Deus Criou a Mulher (1956, Roger Vadim), que deu a conhecer Brigitte Bardot, L’amant de lady Chatterley (1955, Marc Allégret) e Os Amantes (Louis Malle), e dos anos 60, com Lolita (1962, Stanley Kubrick), Blow-Up – História de Um Fotógrafo (1966, Michelangelo Antonioni), A Primeira Noite (1967, Mike Nichols) e Barbarela (1968, Roger Vadim), por exemplo, o sexo expunha-se como um tema a abordar frontalmente. O público aceitava a importância dessa temática, queria saber mais sobre ela, e em breve pedia imagens mais explícitas.
Tal traz uma a abertura para outros domínios. De um lado, realizadores de cinema de nicho no que seria chamada a sexploitation, que usam gratuitamente nudez e imagens de forte pendor sexual, como são as produções de Russ Meyer, os chamados nudie cuties desde o seu bem-sucedido The Immoral Mr. Teas (1959), passando pelo famoso Beyond the Valley of the Dolls (1970). São exemplos Jesús Franco, Joseph W. Sarno, José Ramón Larraz, Walerian Borowczyk e Jean Rollin, entre outros, que dão um tom sexual a muitos dos seus filmes, muitas vezes na esfera do cinema de terror, como são exemplos Vampyros Lesbos (1971, Jesús Franco), Vierges et vampires (1971, Jean Rollin) e As Vampiras (1974, José Ramón Larraz), entre dezenas de filmes destes realizadores que têm a exploração do corpo feminino como tema central. (…)
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