Local de reunião do Cinema Português e de união entre este e o público, o festival Caminhos do Cinema Português chega à sua 24ª edição com uma programação marcada pela heterogeneidade e um número assinalável de obras lusas a descobrir ou reencontrar. Ao todo foram seleccionadas vinte e seis longas-metragens, cento e dez curtas, dezassete documentários e vinte e uma animações. Se quisermos ser mais precisos, contamos com setenta e quatro horas, cinco minutos e cinquenta e cinco segundos dedicados à exibição de fitas. A jóia da Coroa do evento é a Selecção Caminhos, onde podemos encontrar uma mescla de experiência e sangue novo. Tanto somos colocados diante de nomes bem conhecidos como João Botelho (“Peregrinação”), Eugène Green (“Como Fernando Pessoa Salvou Portugal“), Lúcia Murat (“Praça Paris“), Edgar Pêra (“O Homem-Pykante” e “Caminhos Magnétykos”) e Bruno de Almeida (“Cabaret Maxime”) como de cineastas em busca de afirmação no formato de longas como Paulo Carneiro (“Bostofrio oú le ciel rejoindre la terre”), Justin Amorim (“Leviano”), Bruno Gascon (“Carga”), Leonor Teles (“Terra Franca”), entre outros.
A duração não é motivo para separação entre as diferentes secções da Selecção Caminhos. Curtas e longas convivem entre si, algo que podemos observar desde logo na secção de Documentários. Note-se como curtas como “Madness”, um documentário de João Viana, vencedor do Grande Prémio de Documentário na edição de 2018 do Curtas de Vila do Conde, ou “Os Mortos” (Gonçalo Robalo) e “Pele da Luz” (André Guiomar) convivem com longas como “Terra Franca”, “Turno do Dia” (Pedro Florêncio) e “O Canto do Ossobó” (Silas Tiny). O mesmo se aplica para a riquíssima secção de ficção, onde encontramos longas como “A Árvore” (André Gil Mata), “Aparição” (Fernando Vendrell), “Amantes na Fronteira” (Atsushi Funahashi), “Mariphasa” (Sandro Aguilar), “Soldado Milhões” (Gonçalo Galvão Teles e Jorge Paixão da Costa) a partilharem o mesmo espaço com curtas como “Aquaparque” (Ana Moreira), “A Estranha Casa na Bruma” (Guilherme Daniel), “Equinócio” (Ivo M. Ferreira), “Russa” (João Salaviza e Ricardo Alves Jr.”) entre outras películas que fazem parte do certame. Já as animações aparecem curtas em formato mas grandes em qualidade, ou não estivéssemos perante a secção que conta com duas das grandes obras desta edição do Caminhos do Cinema Português: “Entre Sombras” (Mónica Santos e Alice Guimarães) e “Porque este é o meu ofício” (Paulo Monteiro).
Outra das secções competitivas do festival é a Selecção Ensaios, onde constam “obras produzidas num contexto académico nacional e internacional num cruzamento inter-academias possibilitador de um olhar comparativo entre o futuro do cinema nacional e o seu posicionamento no mundo“. Dois dos destaques desta secção são “Amor, Avenidas Novas” e “A Costureirinha”. A primeira foi realizada por Duarte Coimbra, premiada no 26º Curtas de Vila do Conde e exibida em certames como o Festival de Cannes e Indielisboa. Por sua vez, a segunda é coordenada por Telmo Martins, tendo sido produzida no âmbito da 6.ª edição do Curso de Cinema – Cinemalogia. A programação do XXIV Caminhos do Cinema Português não fica por aqui e tem espaço para abarcar produções de outras nacionalidades. Observe-se a diversidade de origens das fitas que constam na secção Caminhos Mundiais (não competitiva). Desde obras de Trinidad e Tobago (“Green Days by the River”) e México (“Iku Manieva”), passando pelo Brasil (“Hijos de la revolucion”; “Eduardo Galeano Vagamundo”; “Paraíso” e “O Barco”) e Nepal (“The Remains”), a programação da secção Caminhos Mundiais é marcada pela pluralidade da origem das fitas e pela procura dos programadores de apresentarem “aos espectadores, por meio de filmes vindos dos vários continentes, a ideia de um mundo bastante crítico acerca de si próprio e cada vez mais aberto à diversidade, com personagens em constante processo de autodescoberta“.
Temos ainda a recém-nascida secção “Outros Olhares”, na qual os programadores se propõem a “observar obras significativas da produção nacional nos parâmetros do documental e do experimental, permitindo assim, como a própria nomenclatura indica, que o público encontre outros e novos olhares que actualmente encaram o cinema e a realidade“. É nesta secção que encontramos trabalhos como “Pe San Ie” (Rosa Coutinho Cabral), “Pixel Frio” (Rodrigo Areias), “Tempo Comum” (Susana Nobre), “Lupo” (Pedro Lino), entre outros. O certame conta ainda com três sessões Mastersessions, nomeadamente, “A representação da crise no cinema português nos festivais de cinema europeus”, “Novas propostas formais no cinema contemporâneo” e “O valor de uma marca do/no cinema português”, que visam discutir aquilo que é o nosso cinema. A 24ª edição do Caminhos do Cinema Português decorre entre os dias 23 de Novembro e 1 de Dezembro, em Coimbra. Podem consultar a programação completa em: https://www.caminhos.info/