Que o Drew Goddard faz filmes porreiros, já sabíamos. A Casa na Floresta (2012) capturou a atenção de audiências mundiais para este talentoso guionista-tornado-realizador, e todos esperávamos ansiosamente a sua próxima incursão atrás das câmaras. Sete Estranhos no El Royale tem o seu quê de Tarantinesco (não há como o negar, desde a trama até à banda sonora), mas o filme não se contenta em ficar pelo pastiche. Pelo contrário, Goddard mostra uma extrema sensibilidade na maneira não só como mostra violência, mas também a brincar com o espectador e as suas expectativas, num universo onde ninguém está seguro, e nada é o que parece.
Tudo se passa no El Royale, um motel de reputação duvidosa e decadente que se situa na fronteira entre os estados de Nevada e California – sendo os quartos californianos um dólar mais caros. O filme abre num plano fixo, de cerca de 10 minutos (uma escolha estilística com razão específica, como saberemos mais tarde), onde vemos um homem esconder uma mala no chão do seu quarto. No presente, um padre e uma mulher de cor fazem check-in no hotel, ao mesmo tempo que um vendedor ambulante extremamente falador e uma mulher que se recusa a dar a verdadeira identidade. A partir daí – e de um pequeno mal-entendido – tudo começa a dar para o torto para todas as personagens envolvidas.
Tenso e inteligente, Sete Estranhos no El Royale é difícil de descrever, vivendo de pequenos twists a todo o momento em vez de uma grande revelação final (apesar do inesperado momento emocional final, que puxa à lágrima quase). O guião deixa a audiência unir os pontos entre as tramas – para nos dizer, minutos depois, que estamos errados. Mesmo com pedaços de história que não nos são completamente revelados (como o passado das personagens de Cynthia Erivo e Dakota Johnson, por exemplo), a narrativa vai-nos dando, às migalhas, peças para um finale em que só falta mesmo a pirotecnia. É como Quatro Quartos, mas com esteróides.
Dois pontos fortíssimos do filme, além do guião: todas as suas personagens, mas principalmente Darlene Sweet (Cynthia Erivo) e, claro, o carismático Billy Lee (Chris Hemsworth); e a banda sonora – não só as canções escolhidas, mas como e quando são usadas. Claro, a cinematografia (por Seamus McGarvey, que também fez Animais Nocturnos e Expiação) e a edição (por Lissa Lassek, por trás de A Casa na Floresta e Dr. Horrible’s Sing-Along Blog) também são de comer e chorar por mais.
Em suma, este filme (escrito após a eleição americana de 2016, como uma certa parte de diálogo leva a crer) brinca com o conceito de dualidade, e com a ténue linha entre o bem e o mal. Cheio de anti-heróis, Sete Estranhos no El Royale recomenda-se, a ver a frio e sem quaisquer spoilers, para o máximo de desfrute.
Review overview
Summary
Com toques de Tarantino, Sete Estranhos no El Royale prova que um guião inteligente e actores de alto calibre continuam a ser a fórmula incontestada para um filme de 5 estrelas.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização