And Breathe Normally é um subtil drama de recorte documental com consciência social que aproxima duas personagens diferentes através de um sentido periclitante de altruísmo.
Ísold Uggadóttir é uma argumentista e realizadora estreante nas longas-metragens com And Breathe Normally, filme que já lhe valeu dois prémios FIPRESCI — no Festival Internacional de Cinema de Roterdão e, para melhor filme nórdico, no Festival Internacional de Cinema de Gotemburgo —, bem como a distinção para a melhor realização no mais mediático Festival de Cinema de Sundance. Apesar deste título aparecer na edição de 2018 do Queer Lisboa, a temática LGBT é apenas mais um dos ingredientes discretos que Uggadóttir acrescenta a uma narrativa de travo realista, filmada em registo quase documental, em que estão presentes preocupações do forro económico e social que ultrapassam fronteiras, crenças, géneros ou orientações de qualquer natureza.
Kristín Þóra Haraldsdóttir é Lara, mãe solteira de Eldar (Patrik Nökkvi Pétursson) com quem vive na península Reykjanes, na Islândia. Com a sombra de uma dependência de drogas no seu passado, Lara vive o dia-a-dia com grandes dificuldades financeiras e carências emocionais que não são colmatadas pelo romance fugaz com a mãe de um colega de escola de Eldar. Apesar de conseguir trabalho na alfândega do aeroporto, vê-se obrigada a sair de casa por não ter dinheiro para pagar a renda, e a dormir com o filho no carro. Decidida a dar o seu melhor no novo emprego, é responsável pela a apreensão do passaporte de Adja (Babetida Sadjo), originária da Guiné Bissau e em trânsito para o Canadá. Separada da irmã e filha, Adja vê-se obrigada a servir trinta dias na prisão, ao fim dos quais se vê enredada na teia do sistema de refugiados ilegais. Quando as vidas de Adja, Lara e Eldar se cruzam novamente, vai-se criando uma relação periclitante de entreajuda.
And Breathe Normally consegue a proeza de emocionar através das singelas acções das suas personagens. Com um registo seco e documental, Uggadóttir vai revelando a conta-gotas tudo o que precisamos saber sobre a narrativa. Esta nunca deixa de ser realista e verosímil, apesar de uma ou outra coincidência essencial à progressão da história. Não obstante a recente e milagrosa recuperação económica da Islândia, a autora mostra-nos uma realidade social que por certo ficará de fora dos livros de contas e do exemplo positivo que tão bem serviu à pequena ilha. Paralelamente, e sem nunca se tornar num filme-mensagem, somos também testemunhas de uma realidade com a qual raramente queremos lidar. Adja é apenas mais um exemplo, no meio de muitos, de refugiados mastigados e cuspidos por um sistema que, depois de desconsiderar a situação particular de cada indivíduo, lhes pede desculpa enquanto os deporta para um qualquer país onde correrão perigo de vida simplesmente pelas suas preferências sexuais.
Minimalista, com interpretações naturais e, acima de tudo, verosímil, And Breathe Normally é uma viagem inesperadamente emocional à nossa consciência social que apresenta seres-humanos em situações extraordinárias que conseguem encontrar a humanidade necessária para olharem para além do seu umbigo.
Review overview
Summary
And Breathe Normally é uma viagem inesperadamente emocional à nossa consciência social.
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização