Reconstituição cuidada de épocas e espaços, Pedro e Inês traz-nos a prosa de Rosa Lobato Faria feita cinema, na mais célebre história de amor trágico do nosso imaginário colectivo.
Pensamos nela como a mais célebre história de amor nascida em Portugal. A mais macabra também, quando, entre mito e realidade, imaginamos um amor que vai – literalmente – para além da morte, com um rei (Dom Pedro I) que assassina barbaramente quem lhe retirou a amada (Inês de Castro), e uma consequente coroação – e beija-mão – do cadáver dela. São factos de uma originalidade e grau de demência que tornam a história conhecida além-fronteiras, e fazem corar escritores da categoria de um Stephen King.
E foram eles que inspiraram Rosa Lobato Faria a escrever o romance A Trança de Inês (publicado em 2001), no qual a história do amor de Pedro e Inês é repartida em várias narrativas e contextos, numa tentativa de universalização de um tema, que não se restringe a espaços físicos ou temporais.
Restou a António Ferreira fazer uma transcrição do romance ao cinema, e sentimos desde logo que, nas narrações em off de Pedro (Diogo Amaral), e nas passagens sem aviso de uma história para outra, o filme se faz da prosa poética de Rosa Lobato Faria, introspectiva, lenta e contemplativa, como uma história que se conta a si própria, quase sem necessidade de assentar em factos concretos.
Em Pedro e Inês, assistimos a quatro linhas narrativas que se entrecruzam como um filme mosaico, onde temos Pedro como um doente num hospital psiquiátrico, como arquitecto nos nossos dias; como membro de uma comunidade rural numa qualquer floresta de uma espécie de futuro distópico; e como D. Pedro I, infante de Portugal, filho de D. Afonso IV. Em todas, menos na primeira – que funciona como desfecho de uma das outras – temos os elementos conhecidos. Pedro é sempre filho de Afonso (João Lagarto), casa sempre com Constança (Vera Kolodzig), e acaba por trocá-la por Inês (Joana de Verona), resultando num final trágico. Mas, mais que o interesse de cada uma das histórias, é nas passagens entre elas, na tal intemporalidade e na universalidade pretendida pelos autores que reside o seu cerne. Por isso as passagens não se fazem anunciar, e por isso a tal narração off, confessional e dolorosa é o fio condutor que as une, como se todas fossem uma só.
Com reconstituições de diferentes épocas conseguidas em grande perfeição, numa produção de grande ambição, há ainda a realçar a excelente banda sonora (de Machaut a Satie, passando por Diabo a Sete, e temas originais de Luís Pedro Madeira) que, tanto quanto as imagens, nos transporta aos diferentes tempos e espaços. Fica, no entanto, a sensação que, concentrado na (muito bem filmada) história original, Pedro e Inês teria mais a ganhar. Assim, demasiadamente enamorado dos seus truques narrativos, o filme é um simples exacerbar das palavras de Rosa Lobato Faria, onde depressão, frustração, desgosto e pessimismo se tornam evidentes, mas só porque já conhecemos a história, e não tanto porque o filme no-las faça sentir.
Pedro e Inês foi seleccionado para o Montreal World Film Festival, no Canadá, e estará em competição na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (Outubro) e no Festival do Rio (Novembro).
Review overview
Summary
Repartido por quatro linhas narrativas, em três tempos diferentes, numa produção excelentemente cuidada, Pedro e Inês adapta o romance de Rosa Lobato Faria para se perder em demasia na prosa poética da autora, preferindo narrar em vez de nos fazer sentir, tão enamorado dos seus truques narrativos quanto os protagonistas um do outro.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização