Segunda longa-metragem de Elina Psykou, Son of Sofia (O gios tis Sofías, 2017) é um conto de aculturação difícil de um jovem russo que se muda para a Grécia, perdido entre falsas fantasias e uma enorme desilusão.
O ano é 2004, com os Jogos Olímpicos de Atenas no horizonte. A história é a de Michael (Victor Khomut), um rapaz russo geralmente tratado por Misha – a mascote de outros Jogos Olímpicos –, que após vários anos sem ver a mãe (Valery Tscheplanowa), a trabalhar na Grécia, vem agora viver com ela, desenraizado, e sem motivações. Encontrar a mãe casada com aquele que ele julgava ser apenas o seu patrão – o já idoso Nikos (Thanasis Papageorgiou), antigo actor de programas infantis, e actual figurante em novelas televisivas – é um choque, e o seu padrasto é alguém que Misha nunca consegue aceitar como parte da família.
Há sempre uma aura de ilusão que atravessa toda a segunda longa-metragem da cineasta grega Elina Psykou, premiada pelo argumento em Tribeca, com o mote nos tais Jogos Olímpicos, símbolo de uma união utópica entre povos. Das falsas ilusões de Misha, que pensava vir viver a sós com a mãe às suas constantes negações de que ela seja casada, de episódios como o da novela que ela finge não ter visto só para que nos momentos de visionamento com o filho tenha algo a partilhar até à própria presença do aristocrático Sr. Nikos, que ainda vive da nostalgia de antigos programas de leitura de contos (onde era conhecido como o Avô Terra), ouve regularmente as suas gravações e arroga-se de grandiosidade quando não é mais que um figurante nas séries onde trabalha, rejeitando tudo o que é russo, em favor da superioridade que vê na cultura grega.
Exemplo dessa necessidade de aparência, num mundo onde criar uma imagem pública parece ser mais importante do que aquilo que realmente somos, é o desaparecimento temporário de Misha, que leva o austero e sempre crítico Nikos à televisão, chorando-se para dizer ao mundo que o amava como a um filho. E, por entre todas essas ilusões, a que mais marca talvez seja a da falsa integração, com Misha a rejeitar silenciosamente a sua aculturação, convivendo com jovens ucranianos, que se prostituem, enquanto falam com desdém dos gregos, e sonham deixar a Grécia um dia.
Assim, numa narrativa clássica, pouco dada a dramatismos, Elina Psykou dá-nos conta das dificuldades de uma pan-Europa, onde a estranheza e as diferenças – o próprio facto de Misha e Nikos não proferirem uma palavra na língua do outro atesta isso mesmo –, ainda que aparentemente pequenas, continuem a ser inultrapassáveis para muita gente. E é de (des)ilusão de mundos diferentes que trata este Son of Sofia, onde o personagem principal se vê com o nome tirado do urso dos Jogos Olímpicos de Moscovo de 1980 (numa casa povoada por disfarces de animais dos tais contos infantis), enquanto o seu padrasto – que o quer educar à força – o tenta convencer tratar-se de uma homenagem ao arcanjo Miguel. Curiosamente, lembrando que Sofia em grego significa sabedoria, esta sabedoria – por outras palavras, a mãe Sofia – é a mais ausente na história, mostrando-se sempre fora, a trabalhar, impotente para compreender o filho, ou manobrar uma forma de fazer evoluir a harmonia caseira.
Algo frio e com alguns problemas de ritmo, o minimal Son of Sofia, é um coming-of-age sem contos de fadas (estes ficam nas tais leituras do Avô Terra – Sr. Nikos) que vê o mundo pelos olhos de um adolescente que está demasiado desiludido para querer compreender aquilo que à partida não lhe interessa, perdido entre sonhos falsos, fantasias e solicitações que nada lhe dizem. Será essa a situação actual da Europa? Elina Psykou (que também escreveu o argumento) assim o parece pensar.
Review overview
Summary
Coming-of-age sem contos de fadas ou finais felizes, Son of Sofia conta-nos uma história minimal de desenraizamento, vista pelos olhos de um adolescente russo na Grécia, num filme frio e desiludido sobre a capacidade de integração europeia.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização