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[Olhares do Mediterrâneo 2018] Figlia Mia

de Laura Bispuri

mediano

Feito por mulheres, com mulheres, e sobre mulheres, Figlia Mia (2018) é a segunda longa-metragem de Laura Bispuri, agora num conto amargo de revelação sobre o valor da maternidade.

 

A segunda longa-metragem da italiana Laura Bispuri reforça a tendência da realizadora e argumentista de trabalhar em histórias onde a perspectiva feminina ocupa toda a obra. Logo, desde o título, Figlia Mia (2018) é um filme de mulheres, com mulheres, sobre mulheres, e onde os homens são perfeitamente secundários (vários bêbedos, compradores de sexo, um marido sem grande capacidade de compreensão da sua esposa, e por isso alienado por ela, e uma espécie de mafioso – o quase lendário Udo Kier – figura caricatural, unidimensional e passageira).

Eliminados os excessos – isto é, os homens –, Figlia Mia fala-nos de uma menina, Vittoria (Sara Casu) e duas mães: a biológica, Angelica (Alba Rohrwacher) – irresponsável, dissoluta, alienada e sempre em sarilhos; e a mãe de facto, Tina (Valeria Golino) – responsável, trabalhadora, dedicada. Basta a história de como Tina insiste para que Vittoria lave arduamente os pés, principalmente entre os dedos, e de como Angelica lhe diz que tal é escusado pois a sujidade entranha-se sempre, para percebermos tudo o que precisamos sobre a diferença entre as duas mulheres.

Quando o filme se inicia, Vittoria ainda não desconfiou não ter nascido de Tina. Mas quando Angelica, aflita com dívidas e contemplando a ideia deixar a Sardenha, onde vivem, começa a aproximar-se dela, a verdade torna-se evidente. Chocada pelo segredo escondido, e necessitando afirmar a rebeldia própria da idade, Vittoria vai castigar Tina refugiando-se em casa de Angelica, para aprender nessa experiência o valor do amor materno, feito de dedicação e sacrifício, nos exemplos distintos das suas duas mães.

Filmado de câmara ao ombro, na árida paisagem da Sardenha, com respirações ofegantes como principal banda sonora, e onde cada passo dado nos faz sentir o peso do calor insuportável (e a tal sujidade que se entranha sempre), onde nada pode crescer sem sacrifício, Figlia Mia é uma prova de como um filme pode ser carregado pelas suas actrizes, numa história que tem o mérito de se ir contando naturalmente, com as situações, mais que as palavras (os diálogos são muitas vezes casuais), a revelar o enredo, mas que se esgota cedo, deixando-nos apenas com as reacções das protagonistas, que levam a uma espécie de final feliz bastante anti-climático.

Conto de coming-of-age (é a filha Vittoria a titular do filme – não devemos esquecer), muito do filme pretende ser visto pelos olhos da menina – com uma forçada entrada e consequente saída num buraco na terra a simbolizar um renascimento para uma nova consciência da sua realidade –, mas o filme de Bispuri é-nos sempre trazido com mentalidade adulta, onde as nuances dos comportamentos dos crescidos são elusivas à pequena Vittoria. Tal torna a história algo decepcionante, nunca deixando aquilo que da ideia base se poderia esperar, e não evitando cair em moralismos fáceis.

De melhor, temos a ambiguidade da adopção onde nem tudo é o que parece, a fotografia da Sardenha, e claro, as interpretações da sempre graciosa Valeria Golino, da visceral Alba Rohrwacher e da surpreendente Sara Casu.

Review overview

Summary

Coming-of-age onde uma filha vai aprender o valor da maternidade no exemplo das suas duas mães: a mãe biológica e a mãe de facto. Dado a moralismos fáceis, Figlia mia não resiste a um final feliz, depois do amargo em que se tornara toda a descrição das protagonistas.

Ratings in depth

  • Argumento
  • Interpretação
  • Produção
  • Realização
2.5 10 mediano

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