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O Rei Leão

de Jon Favreau

muito bom

Será que leões sabem representar?

 

Nota: crítica à versão original

 

Sou um amante da filosofia dos live-action. Não só é uma forma de recontar uma história e apresentá-la a novas audiências, como um meio de as repensar criativamente e tentar surpreender. Assim, foi sem surpresa que após saber que Jon Favreau, após o seu trabalho fabuloso em O Livro da Selva (2016) iria realizar O Rei Leão, fiquei animado por conseguir reentrar na história que tão bem conhecia de há anos. Tendo visto recentemente a versão animada, pintada à mão, foi com ânimo que me sentei na sala de cinema para apreciar o que de melhor a tecnologia tem hoje para oferecer. Porque sim, mesmo que se procure dar nova vida a um clássico, o efeito cinematográfico é e foi o grande destaque.

A beleza da fotografia, cor e realismo foram assim chaves para esta versão, feita 25 anos após o original. Na verdade, e sem que a história sofresse qualquer alteração, o espetador é mergulhado num mundo que, até há uma década, julgara impossível. O realismo presente em cada animal da savana africana e na harmonia que os mesmos têm na interação do ciclo da vida, é lindíssimo. Na verdade, se há mensagem mais explícita neste “remake”, é a preocupação em consciencializar de que não somos donos de nada no nosso planeta, mas meros guardiões e cuidadores para as gerações futuras. Estas referências são introduzidas de forma sublime, sem qualquer arrasto na narrativa. A banda sonora, novamente a cargo de Hans Zimmer, ajuda neste processo, ao provocar no espetador uma nostalgia do que foi ver este clássico na infância. Todavia, penso que é aqui que o live-action peca.

O Rei Leão

A história, como referi, é conhecida: Mufasa (James Earl Jones) começa o filme a apresentar o seu filho e sucessor – Simba -. A festa é grande, mas rapidamente compreendemos como o seu irmão, Scar (Chiwetel Ejiofor), inveja não ter tido o trono. É esta vingança que o leva a ludibriar o jovem Simba (JD McCrary) no seu crescimento, incentivando-o a colocar-se em perigo, mesmo que este não compreenda. É esta falsa relação de preocupação que Scar constrói o seu plano, fazendo com que Simba corra perigo num desfiladeiro agitado por uma manada que se movimento a um ritmo frenético após as Hienas, a mando de Scar, terem causado aquele distúrbio. Scar, seguindo o seu plano, chama o seu irmão, pai de Simba, para que este o consiga ajudar. Tal como no original, Mufasa morre, após o irmão o ter empurrado do desfiladeiro, recusando o seu pedido de auxílio, tendo como objetivo torna-se rei. Em termos cinematográficos, é neste ponto que o filme falha, não conseguindo entregar uma cena emocionante, fruto de uma colocação de vozes bizarra e que é intensificada ao longo do filme em alguns momentos músicas.

O filme é bem construído, lindíssimo, e com a questão do lidar com a morte de um progenitor. Todavia, senti que o grande sustento do filme não é a tecnologia, mas sim a memória que o público tem de infância. Os momentos musicais conseguem surpreender, mas o movimento de boca dos animais é para lá de estranho, levando a que nem sempre estivesse conectado com a narrativa – e algo mais bem conseguido no live-action de O Livro da Selva.

Simba foge, motivado pelo seu tio, assustado e com medo do que os outros leões poderão pensar dele. A verdade é que, apesar da boa colocação e emoção do jovem que dá voz ao jovem Simba, o animal computorizado em nada demonstra tristeza, o que leva a um momento plástico e que afasta a comoção. Após esta jornada, Simba conhece Timon e Pumbaa, o grande duo que salva o novo filme. Estes são retratados com grande liberdade humorística, dando um fôlego a um filme que por vezes, por mais deslumbrante que fosse, se tornava bizarro. As músicas que tão bem conhecemos são entoadas e interpretadas de forma brilhante, o que potencia o desenrolar do filme até ao momento em que Simba, já adulto (Donald Glover) volta a encontrar a sua melhor amiga: Nala (Beyoncé), e que ficara no reino até então, tendo escapado para procurar auxílio. Simba vive no dilema de aceitar o passado e de saber quem é, perdoando o que aconteceu ao seu pai pelo acidente que acredita ter provocado.

O Rei Leão

A música desempenha, novamente, um momento especial neste segundo e terceiro ato, com as coreografias bem executadas, conjugando o clássico com o atual, levando-nos a descobrir como é vivida a vida animal. Foi indiscritível o recuar no tempo e reouvir músicas como “Can you Feel the Love Tonight”, assim como a mítica “Hakuna Matata”, levando a uma audiência deliciada.

Beyoncé, como Nala, consegue surpreender com a sua colocação de voz, tendo sido a melhor surpresa do filme em questões de elenco. Neste final, e já com grande parte das personagens reunidas, existe uma grande referência a um outro filme da Disney, dando ainda mais motivos para a audiência rir perante momentos humorísticos criados pelas vozes de Billy Eichner (Timon) e Seth Rogen (Pumbaa).

O filme termina como começou, ao dar primazia à máxima de que as nossas decisões afetam os outros e a forma como estes estão com e na vida. As questões ambientais são também referências por meio do “estilo documentário” do qual o realizador se baseou, sendo um momento bonito na história do cinema e que para sempre, ficará recordado. Quer seja pelo bom, quer pelo mau.

 

Crítica assinada por Diogo Simões, leitor da Take Cinema Magazine e autor dos livros ‘O Bater do Coração’ e ‘Esquecido’

Review overview

Summary

A Disney tentou uma nova abordagem de Rei Leão que, para sempre, ficará na história. A ser necessária, fica a questão, já que dificilmente estes leões souberam “representar” na altura certa…

Ratings in depth

  • Argumento
  • Interpretação
  • Produção
  • Realização
4 10 muito bom

Comentários