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O Realizador e a Realidade

O Realizador e a Realidade

O realizador está muitas vezes preso. Seja pela necessidade de repetir códigos convencionados ou pela sua incapacidade de se expressar de outra forma. No entanto ele deve essencialmente estar comprometido com a sua percepção da realidade.

 

Muitos factores há que promovem essa prisão: muitas vezes os programas de ensino formatam os alunos de cinema num percurso onde o desvio à norma é penalizado e não analisado, avaliado numa escala numérica. De uma forma prática, tal tem que ser para poder atribuir um valor académico ao estudo. No entanto, se isto é grave em qualquer matéria estudada (obviamente não acontece só no cinema), no ensino artístico torna-se castrador. Werner Herzog fala disto mesmo ao expressar a sua opinião sobre a utilidade ou inutilidade do estudo do cinema numa escola. Não se refere ele ao saber mas ao ensino em si.

Não existe justificação possível de ser aceite a apresentar pelo estudante de cinema perante o ‘erro’, porque o significado se sobrepõe à forma, porque a convenção se sobrepõe à imaginação.

O erro do realizador é, concluídos os seus estudos, continuar a produzir o seu trabalho muitas vezes como se numa escola ainda se encontrasse. Depois a própria indústria do cinema, pequena ou grande, produtores, distribuidores ou festivais de cinema, salvo para isso sejam sensíveis à partida desvalorizam as linguagens mais alternativas, perpetuam a norma.

O realizador é um manipulador, um prestidigitador. Através de truques (os seus truques são a imagem, a montagem, o som…) dirige o espectador para o que este vai percepcionar.

O processo de colocar uma câmara num determinado local a uma determinada distância de um objecto que se pretende filmar implica uma escolha.
Dependendo do meio, é muitas vezes pela capacidade de inventar novas estruturas que surgem realizadores que depois, à boa moda de Hollywood nos anos 20 e 30, ou são assimilados e mudam ou se perdem. Steven Soderbergh começou com um caminho próprio mas ajustou-se, cedendo alguma da sua forma de construir um filme. Jim Jarmusch conseguiu seguir uma forma de financiamento que lhe permite alguma independência no trabalho. Gregg Araki ou Richard Kern tornaram-se conhecidos em certos meios, num nicho de mercado reduzido.

O ensino é de extrema importância em qualquer área que se queira evoluir. O realizador deve centrar toda a sua capacidade na criatividade, utilizando os conhecimentos que adquiriu na formação que teve como ferramentas para transgredir, para colocar em causa o seu próprio pensamento. Deve chocar com o público e consigo próprio.

 

Marco Laureano
Formador

(www.cursogeraldecinema.com)

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