Com a espectacularidade do maior salto da humanidade em fundo, Damien Chazelle prefere, em O Primeiro Homem na Lua, dar-nos a conhecer o pequeno passo do homem que o concretizou.
Talvez quem vá ver O Primeiro Homem na Lua vá na ilusão de ir assistir a um documentário grandioso sobre a aventura da conquista espacial na década de 1960, um pouco como em Os Eleitos (The Right Stuff, 1983) de Philip Kaufman. Talvez se espere até aquele dramatismo bem hollywoodesco de transformar cada passo num feito tão espectacular como iminentemente trágico, como vimos em Apollo 13 (1995) de Ron Howard. É então necessário dar este caveat: o novo filme de David Chazelle não é nada disso.
Ao invés de procurar os feitos tecnológicos, a pose heróica e o fervor nacionalista, Chazelle aposta numa análise de personalidade, centrada na personagem do bem real Neil Armstrong (Ryan Gosling), assim como se o filme na verdade se chamasse “O que raio ia na cabeça dele?”.
A pergunta, que está presente desde os primeiros planos do filme, que o acompanha no dia a dia – por exemplo quando não sabe o que dizer aos filhos na véspera de partir para a missão que o tornaria famoso – e que espelha no seu rosto quando finalmente pisa a Lua, é o leitmotiv do filme. E é do rosto de Ryan Gosling (na sua habitual expressão de neutra impassividade) que se faz a maior parte de O Primeiro Homem na Lua. Filmando em close-ups extremos, não hesitando em deixar a câmara tremer, como se esse tremor fosse o único cenário que cerca o protagonista, o filme torna-se um olhar intenso, que propositadamente ignora o óbvio – não temos quase imagens de fora da Apollo 11, e mesmo as sequências lunares (que de resto constituem uma pequeníssima parte do filme) são-nos dadas pelo olhar de Armstrong, que é quase sempre à sua própria escala, tímido, reservado e limitado.
A opção entende-se e justifica-se. A fuga à espectacularidade óbvia e espectável elogia-se. Não obstante um tratamento sonoro exemplar (e dir-se-ia que Chazelle parte sempre de uma coreografia sonora, mesmo quando o filme nada tem de musical), e a curiosa opção de granular a fotografia para nos trazer um sabor vintage, cedo se sente que estamos perante uma oportunidade perdida, e que tudo se esgota em muito pouco tempo, ficando desde então a ilusão de que algo mais há a descobrir. Só que esse algo (além da amargura do protagonista, que já conhecíamos desde o início) não nos chega. Talvez como a chegada à Lua foi apenas o cumprir de um pequeno passo que nunca reverteu no tal grande salto de que a humanidade ainda precisa.
Review overview
Summary
Deixando de lado a espectacularidade do tema, já explorado noutros filmes, Damien Chazelle prefere uma abordagem intimista, feita do olhar e close-ups extremos de Ryan Gosling. Se, por um lado, se elogia o estudo de personalidade, por outro este agrilhoa em demasia um filme que tinha muito mais por onde voar.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização