31 anos depois do lançamento de Predador, o filme que se tornou num dos maiores ícones do cinema de acção do final dos anos oitenta, responsável pelo início de uma espécie de franchise pouco recomendável ao longo de vários volumes que nunca alcançaram o estauto do original, é estreada entre nós uma nova sequela. Shane Black fez parte do elenco do título inaugural, mas é hoje mais conhecido por ser um dos argumentistas pop star da Hollywood dos oitentas e noventas (é dele a criação de um dos melhores filmes buddy cop da sua época: Arma Mortífera) e que voltou à ribalta ao transformar-se em realizador dos seus próprios guiões com Kiss Kiss Bang Bang (2005), seguindo-se o terceiro tomo da saga do Homem de Ferro (2013) e Os Bons Rapazes (2016).
Este novo filme do franchise do ser alienígena muito, muito feio não tem numeração, intitulando-se simplesmente O Predador – não sabemos se é essa ideia que pretende passar, mas parece querer dizer, com isso, que é “o” filme definitivo do bicho de outro mundo apreciador de caça desportiva com humanos. Certo é que, tal como muitas sequelas-que-ao-mesmo-tempo-são-reboots-ou-remakes modernos, não faltam montanhas de referências às incursões que a antecederam (principalmente o primeiro e um pouco do segundo), e sente-se que há uma sucessão de tentativas de recuperar aquele cheirinho gostoso dos filmes de acção dos 80s para atender à nostalgia dos fãs que ainda viram a aventura inicial com Arnold Schwarzenegger no grande ecrã, e que, por outro lado, por toda parte encontramos os apetrechos CGIzados dos filmes contemporâneos made in Hollywood.
O que surpreende, então, para elevar a abordagem de Black a um pouco acima da mediania, ou mediocridade, da quase-totalidade dos seus pares? O sentido de humor, inerente à pena do argumentista/realizador (que aqui escreveu com Fred Dekker, com quem antes dividiu a autoria do guião de Os Caça-Monstros) e à satisfatória interação entre os atores, bem como uma sucessão de sequências de acção que, se bem que não primam pela originalidade ou pela inovação, não incomodam tanto a vista como se pensaria. Mesmo que sintamos que o filme é feito de retalhos (não só por causa dos reshoots, mas também pela estrutura da narrativa, onde alterações climáticas, um miúdo super-inteligente e uma relação amorosa aparecem sem grande desenvolvimento), o seu sentido de diversão pura, sem precisar de se levar demasiado a sério, ou para aquele “lado muito dark” inerente a muitos blockbusters deste tempo, compensa o bilhete – logo começando pela conversa sobre o porquê dos cientistas designarem esta ameaça alienígena de “predador”, se esta não mata por sobrevivência: é porque é um nome muito mais cool.
E minimamente cool é este O Predador, descomplexado que, por não ter uma duração excessiva, acaba por cumprir as suas intenções de divertimento (pouco) cerebral sem ofender demasiado a dignidade humana. É claro que o filme só poderia ser de maior interesse se McTiernan estivesse de novo atrás das câmaras como em 87, mas não se pode ter tudo – mais vale, no fim de contas, pararmos de choramingar com “o que este filme podia ter sido e não foi”. Pode fazer confusão que, apesar de tudo, este é só mais um estratagema para relançar uma saga afim de criar um novo universo cinemático, aumentando a camada tóxica que vem orientando o cinema comercial norte-americano, mas ainda encontramos motivos para ficar razoavelmente entretidos com a jornada das personagens deste novo capítulo. E ninguém nos obriga a ver os próximos – se é que irão mesmo ganhar vida.
Hollywood já nos quis fazer engolir, sem dó nem piedade, algumas empreitadas bem menos fáceis de tolerar, dentro ou fora desta moda de se reciclar todos os mitos da cultura pop cinematográfica. E mesmo que não fique na História por alguma razão, é preciso dizer que, no que respeita a filmes para consumir sem complicações, O Predador não fica entre as propostas menos conseguidas, se nele quiserem encontrar não o “filme definitivo” da saga (porque esta e as outras sequelas, mesmo que queiram muito, não terão a capacidade de resistir ao tempo como conseguiu o primeiro volume) ou um novo marco da ficção científica dos states (aquela busca incessante de muita gente pela “nova obra prima do universo” em qualquer coisa que lhes apareça à frente acaba por estragar, por vezes, os objectivos muito mais modestos – mas com a mesma importância – de outras fitas), mas uma hora e quarenta de acção despretensiosa, onde o sentido de humor e a relativa carga muscular da pancadaria fazem a diferença.
Review overview
Summary
O Predador é a nova incursão na saga alienígena que entretém sem grandes complexos.
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização