Como se comporta o vencedor de um prémio Pulitzer no ecrã?
Analisar O Pintassilgo pelo olhar de quem leu o livro, anos atrás, não é tarefa fácil. Mas é quando olho para os números de bilheteira que compreendo, que tal como o livro, o drama não é para todos. Isto acontece por algumas razões, outras de passo, outras de argumento. Todavia, é inquestionável como O Pintassilgo faz jus, não só ao significado da pintura, como da obra.
Este deslumbre ocorre logo pela direção e argumento, que transportam o espetador, quer para o passado, como para o futuro. Porém, se encontramos filmes em que essas transições têm significados ou valores questionáveis, em O Pintassilgo, essas ocorrem com significado, drama e suspense. Não só é um retrocesso que explica o presente, como ajuda a compreender as diversas dimensões da construção humana – algo que Donna Tartt (a autora), tão bem faz nas sua obras.
O elenco, de luxo,com nomes como Ansel Elgort, Nicole Kidman, Oakes Fegley, Jeffrey Wright, Sarah Paulson, Willa Fitzgerald e Finn Wolfhard, dançam e interpretam numa adaptação precisa e que contou mais de oitocentas páginas, em duas horas e meia de filme. O trabalho de realização John Crowley é estupendo, aliado a uma banda sonora com personalidade e que dificilmente se encontra noutro filme. Em suma, a história que avança entre o passado e presente conta a história de Theo que perde a mãe numa explosão numa galeria de arte. Este rouba o quadro O Pintassilgo, o qual se torna um objeto simbólico do seu crescimento e representativo do amor que sente/sentia pela mãe. As cenas conseguem ser tocantes, com um final alusivo a essa introspeção. Por meio deste crescimento, Theo (Oakes Fegley – jovem Theo) muda para a sua família mais próxima (Nicole Kidman), onde cresce e se integra ao ponto de quase pertencer à mesma. Todavia, com a chegada do seu pai – até então desaparecido por causa do alcoolismo e divórcio -, muda-se para Las Vegas com a sua atual namorada (Xandra – Sarah Paulson).
É neste ambiente que conhece Boris (interpretado na sua versão jovem por Finn Wolfhard), enveredando por um caminho de consumo de droga, na descoberta da sua adolescência. Infelizmente, o argumento aqui peca em algum desenvolvimento, ao falhar as questões da descoberta da sexualidade e dos consumos e que justifiquem a conexão de irmandade que Theo tem por Boris, quando se encontram em vida adulta. Olhando para o filme como um todo, o espetador poderá aceitar a forma como a narrativa se desenvolve, porém, para quem leu o livro, irá notar uma grande perda no desenvolvimento da personagem jovem. Este desenvolvimento não é sentido para o espetador por meio da atuação do Theo adulto – Ansel -, enquanto este vai interagindo com diversas personagens que lhe permitem, de igual forma, se tornar no homem que é.
Neste seguimento, falar da atuação soberba de Oakes Fegley torna-se imperativo, quer em postura, como na linguagem visível e invisível. Sendo ele um elemento fundamental no passado, acompanhar a sua juventude por meio dos seus olhos, leva a que qualquer leitor se identifique logo com a memória do livro que leu, tempos atrás.
Theo vai conhecendo o que é o amor após as perdas que teve em jovem, recordando pessoas que lhe passaram outrora na vida. É nesta lufa-lufa que aprende a arte de restaurar mobília com a personagem de Jeffrey Wright, para mais tarde se ver tentando a falsificar de forma a aumentar a estabilidade financeira da loja. O reencontro com o passado é assim cada vez maior, com o relembrar de uma história que teima em moldar o presente, especialmente quando este dá conta que há anos que perdera o quadro que com tanta estima guardara.
Neste confronto entre o certo e o errado, a ilusão e a desilusão, Theo acaba por reencontrar a alegria em viver pelo reencontro inesperado com a memória da mãe. Neste final, o filme não consegue acompanhar os desenvolvimentos trabalhados e detalhados do que viria a ser o futuro da sua vida amorosa, optando por dar ao espetador um desfecho mais emotivo e familiar.
Review overview
Summary
Apesar de bem realizado e com uma adaptação o mais fiel possível, O Pintassilgo poderá não agradar a todos pelo seu ritmo, por vezes lento, e por desenvolvimentos tão incorporados em interpretação e realização.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização