Falar do musical é falar da construção de uma idealização romântica da realidade objectiva, daquilo que é real mas acentuado, com nuances, enfeitado para o nosso simples prazer. Talvez seja por isso que de 1927 a 2016, de O Cantor de Jazz a La La Land: Melodia de Amor, o musical tem encantado e antagonizado em iguais proporções. Um produto cultural originado na teatralidade Americana e elevado à nostalgia do “ser” com a influência do cinema europeu, o musical é agora conhecido como um género de cinema que separa espectadores, um gosto adquirido que separa o intelecto do afecto, que deseja a imersão do sonho à aceitação da factualidade. Em outras palavras, o musical pede ao espectador para mergulhar na fantasia e suspender a incredibilidade dos factos desenhados no ecrã contados em narrativas construídas através de números musicais. O musical representa a esperança no suposto insignificante valor da vida e dos seus frustrantes exercícios. É uma construção, ou como Jane Feuer disse no ensaio que escreveu sobre o “Musical de Hollywood” em 1982, “nunca nos é permitido perceber que o entretenimento musical é um produto industrial e que colocar um espectáculo (ou um musical de Hollywood) é um caso de uma força trabalhadora que produz um produto para consumo”, o que cria o problema. Assim que a absorção de tal factor é iminente, como podemos submergir na fantasia se sabemos que estamos a ser manipulados? No entanto, não é isso que acontece não só com o musical, mas com o veículo do cinema em geral? Como podemos nós, espectadores, sabendo que o sucesso da construção depende da nossa obrigatória negação da realidade e escape no sonho do ecrã luminoso e da sala escura? Podemos e fazemo-lo conscientemente. (…)
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