Sputnik é uma proposta russa do sub-género nascido com Alien: O Oitavo Passageiro, mas será que oferece algo de novo?
Sputnik (em russo, Спутник) é o nome do programa que lançou os primeiros satélites artificiais da Terra. Além disso, significa também “companheiro de viagem”. Título apropriado, então, para esta variação de Alien: O Oitavo Passageiro de produção russa situada em 1983, na recta final da Guerra Fria. Dois cosmonautas numa missão de investigação orbital têm um acidente. Um deles morre e o outro, Konstantin, regressa, no entanto algo de errado se passa com ele, sendo isolado numas instalações militares. A Dr. Tatyana Klimova, uma controversa e jovem psiquiatra, é recrutada pelo Coronel Semiradov para ajudar no caso. Mantida na ignorância ao princípio, Tatyana vai progressivamente descobrindo a verdade: Konstantin regressou do espaço com uma entidade alienígena aninhada no seu interior que, durante a noite, abandona o hospedeiro durante perto de uma hora, antes de regressar. Mas será este parasita ou simbiótico?
Em boa verdade, o filme de 1979 de Ridley Scott deu origem a todo um sub-género de ficção científica de terror, sendo Espécie Mortal, realizado em 1995 por Roger Donaldson, outro filme que imediatamente vem à memória perante Sputnik, a estreia na realização de Egor Abramenko. Se o template da premissa é claramente influenciado pelo cinema norte-americano, o argumento de Oleg Malovichko e Andrei Zolotarev explora o cenário russo da melhor forma, subvertendo algumas das expectativas que se possam trazer sobre a potencial progressão da narrativa. Evitando os lugares-comuns do jump scare para, ao invés, aprofundar as complexas dinâmicas entre as personagens, com avanços e recuos na confiança de parte a parte, reflexo das nuances e do jogo da desinformação a que cada um está sujeito. Tal como a criatura se revela abandonando o interior do corpo de Konstantin todas as noites, Sputnik não desdenha ainda a oportunidade de exteriorizar também o terror da máquina de estado soviética, começando pelo encobrimento ao público dos reais acontecimentos e rapidamente revelando o lado obscuro do patriotismo e da devoção mais cega à autoridade sedenta por uma vantagem no conflito mudo que se vivia na altura.
A distinguir ainda de muitos exemplos do género, Sputnik progride a um ritmo deliberado e, apesar de algumas cenas devidamente sangrentas, prefere o confronto interior ao sensacionalismo de cenas de acção. Um dos elementos — que quase desequilibra o atarefado guião — é uma trama secundária envolvendo o filho que Konstantin nunca conheceu, abandonado num orfanato depois da morte da mãe, ainda assim fulcral na visão do cosmonauta sobre a criatura como o castigo pela culpa que carrega. Estas leituras e camadas compensam alguns dos pontos fracos do filme, nomeadamente a solenidade do tom imposto desde o primeiro minuto pela banda sonora composta por Oleg Karpachev, nitidamente a apontar ao registo Hans Zimmer, não poucas vezes trazendo à memória a sonoridade de Blade Runner 2049. Outro ponto menos positivo a apontar, como atrás referido, é o argumento, especialmente no terceiro acto, nitidamente enredado nos seus próprios becos sem saída e nas supostas motivações das personagens.
Não obstante a premissa pouco original e alguns passos em falso, Sputnik apresenta argumentos suficientes para ultrapassar convenções e lugares-comuns e afirmar-se como uma sólida entrada no género a que se propõe.
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Summary
Não obstante a premissa pouco original e alguns passos em falso, Sputnik apresenta argumentos suficientes para ultrapassar convenções e lugares-comuns e afirmar-se como uma sólida entrada no género da ficção científica de terror.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização