3º dia de festival, com a primeira surpresa, Swallow, com Halley Bennet num poderoso papel principal. Houve ainda tempo para um documentário, uma produção americana e um exercício de género irlandês.
I See You (Adam Randall, 2019)
Com argumento de Devon Graye, I See You arranca com intrigante e tensa premissa que não é mais que um truque de ilusionismo decidido a tirar o tapete debaixo dos nossos pés. Quando, a meio da narrativa, se revela, esvazia-se de tensão, verosimilhança e interesse. Curiosidade para ver Helen Hunt por paragens pouco habituais para a actriz.
Horror Noire: A History of Black Horror (Xavier Burgin, 2019)
Produção da plataforma dedicada ao terror Shudder, oferece uma visão histórica da representação negra na história do cinema de terror norte-americano. Enquadrado pelo historicamente importante Get Out – Foge, de Jordan Peele, o documentário recua até a O Nascimento de Uma Nação, de W. D. Griffith, ilustrando historicamente as dificuldades e obstáculos, bem como o papel da própria comunidade negra, no esforço para se ver representada dignamente no grande ecrã. Não evitando o formato convencional, é no entanto um filme interessante para quem gosta de reflectir o cinema e os seus contextos políticos e sociais.
Swallow (Carlo Mirabella-Davis, 2019)
Primeira grande surpresa do Festival. Halley Bennet é a esposa de um jovem empresário de sucesso na empresa familiar. A sua aparente felicidade esconde um vazio existencial que vem a preencher através da ingestão de objectos improváveis. Nem a gravidez altera o estado das coisas nem o marido parece capaz do afecto que avidamente procura através destes actos, os únicos em que encontra um sentido de realização. Swallow consegue a proeza de ser subtil, grave e perturbante, não deixando de encontrar humor em algumas situações, desenhando personagens redondas e verosímeis que habitam um universo em que se sentem na pele as consequências das acçōes e em que se representa toxicidade masculina sem demonizar todo um género, bem como a emancipação de uma personagem feminina sem carregar o estandarte de todas as mulheres do mundo.
The Hole in the Ground (Lee Cronin, 2019)
De produção irlandesa, The Hole in the Ground é mais uma variação da criança ameaçadora, ao jeito de O Génio do Mal por vias de The Shining e as muitas adaptações de The Invasion of the Body Snatchers. Trespassado por um real tom de ameaça, revela-se um bom exercício de género, apesar da conclusão algo insatisfatória.
Menção ainda para a curta portuguesa, extra-competição, Não Procures Mais Além, realizada por André Marques.
Encontram a programação completa do Festival em https://www.motelx.org.