Chega da Alemanha o perturbador O Bar Luva Dourada, um filme não aconselhado a estômagos mais sensíveis.
Para refutar a ideia romantizada que o cinema dá de muitos criminosos – de Bonnie & Clyde ao televisivo Dexter – o alemão de origem turca Fatih Akin traz-nos O Bar Luva Dourada, baseado num livro de Heinz Strunk, o qual se documentou numa história real, ocorrida em Hamburgo, na década de 1970.
O Bar Luva Dourada conta a história de Fritz Honka (Jonas Dassler), um alemão na casa dos trintas, em empregos precários, dissociado de relações, e que tem como entretenimento beber até cair no bar que dá nome ao filme, o qual é frequentado por rejeitados da sociedade, onde ele recruta prostitutas e mulheres sem-abrigo, que a troco de uma bebida o seguem, não suspeitando que serão barbaramente espancadas, violadas e assassinadas.
Até aqui, nada que não tenhamos já visto em cinema, dir-se-á, mas a peculiaridade de O Bar Luva Dourada está na forma como tudo é mostrado. Sem banda sonora que não seja a diegética, com personagens onde a fealdade, sujidade e asco são a norma, com comportamentos inenarráveis onde tudo parece animal e bruto, Fritz Honka vai vivendo sem ser incomodado, dado às suas actividades. A violência incomoda, as mortes são brutais, os actos nauseabundos, e as decisões sempre as mais perturbadoras num caminho que parece não ter fim, e que envolve esquartejar corpos e esconde-los onde calha, mesmo que o cheiro comece a incomodar tudo à volta.
Nesse sentido este “feios, porcos e maus” dos serial killers não deixa de ser uma sátira social, onde o anonimato generalizado numa sociedade onde tudo serve como alienante permite que situações absurdas como esta evoluam impunes, a menos que um incidente esporádico as denuncie.
Com uma interpretação notável de um incrivelmente caracterizado Jonas Dassler, uma cenografia tão inesquecível como assombradora e um inesgotável prazer em chocar-nos pelos níveis de asco a que consegue descer, O Bar Luva Dourada é um filme para poucos estômagos, mas todos esses são atingidos em cheio, lembrando-nos que há muito mais no mundo que aquilo que a nosso conhecimento nos diz.
Review overview
Summary
Feios porcos e maus em versão serial killer é a proposta de Fatih Akin para um filme que vai certamente incomodar, e onde Jonas Dassler interpreta um dos mais asquerosos e nauseabundos assassinos em série de que há memória no cinema.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização