Na sua primeira longa-metragem, Gonçalo Almeida traz-nos um conto amoroso assombrado por presenças que podem ou não ser sobrenaturais.
Depois de ter surpreendido com Thursday Night (2017) uma curta de terror, onde os protagonistas são dois cães, imersos numa atmosfera fantasmagórica – e que venceu o prémio de curtas do MOTELX desse ano –, o português Gonçalo Almeida aventura-se na sua primeira longa-metragem com Faz-me Companhia! (2019), uma história onde o fantasmagórico também marca presença, ainda que agora de uma forma mais metafórica.
Com apenas duas actrizes, Cleia Almeida no papel de Sílvia e Filipa Areosa no papel de Clara (além da voz de Eunice Muñoz ao telemóvel e a aparição por segundos de um fantasma – Helena Simões), Faz-me Companhia! passa-se numa casa de férias no litoral alentejano, onde as duas protagonistas se reúnem para um retiro amoroso secreto, que cedo percebemos não significar o mesmo para as duas.
E se muito do filme é contemplativo, evoluindo no lento deambular da câmara e no filmar das acções, gestos e olhares banais que vão descrevendo cada momento e cada estado de espírito, é sempre do confronto entre Sílvia e Clara que a narrativa avança, onde amor, expectativas, ilusões, incompreensões e traições se vão intercalando com estranhos sons, vozes misteriosas, e momentos de ausência/sonambulismo que podem ser sintoma de presenças sobrenaturais.
Servido de interpretações sólidas, uma química verosímil entre as protagonistas e um modo de filmar que apresenta muito bom gosto – mesmo que o material possa parecer, aqui e ali, algo curto –, Faz-me Companhia! surpreende pela assertividade e compromisso fiel à sua premissa, onde o verdadeiro fantasma é o das relações que não são o que queremos delas, e onde a presença estranha pode ser a da ausência ou do elemento desequilibrador num casal.
É, sem dúvida, uma estreia positiva de Gonçalo Almeida, que revela imaginação e olhar suficientes para ficarmos à espera de mais obras suas.
Review overview
Summary
Uma casa, duas amantes, ruídos misteriosos, um distanciamento no casal. O quanto existe de sobrenatural ou humano é o cerne do conto amoroso de contornos fantasmagóricos que constitui a primeira longa-metragem de Gonçalo Almeida.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização