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[MOTEL/X 2017] O Homem com Raios X nos Olhos

de Roger Corman

muito bom

Mais de 50 anos depois, as aventuras de baixo custo na ficção científica de terror de Roger Corman continuam a impressionar-nos. A sua passagem pelo MOTELX foi disso prova.

 

Presente na 11ª edição do MOTELX, Roger Corman é um nome essencial do cinema fantástico. Com uma carreira de cerca de 400 filmes como realizador e/ou produtor, muitas vezes em produções menores, feitas em poucos dias, e em géneros discutíveis como a exploitation, para além do terror, ficção científica e acção, Corman nunca perdeu dinheiro com um filme, e ajudou a lançar carreiras de gente como Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Ron Howard, James Cameron, Peter Fonda e Jack Nicholson.

Celebrando a presença de Roger Corman, pleno de simpatia e generosidade em sessões de autógrafos, entrevistas e nas obrigatórias selfies com os fãs, foram exibidos no MOTELX dois dos seus mais conhecidos filmes. Falamos aqui de O Homem com Raios X nos Olhos (X: The Man with X-Ray Eyes, 1963), filme da fase áurea da American International Pictures (AIP), que concedeu a Corman a possibilidade de orçamentos e tempo acima do que estava habituado, para produções mais elaboradas (este filme levou três semanas a filmar), fase essa a que também pertence a famosa série de filmes baseados em contos de Edgar Allan Poe, um dos quais também passou no MOTELX.

Com Ray Milland no principal papel, O Homem com Raios X nos Olhos é uma história do subgénero da ficção científica vulgarmente chamado «science gone wrong» (ciência que resulta mal), que pode encontrar antecedentes em Frankenstein de Mary Shelley, O Homem Invisível, de H. G. Wells, ou A Mosca, de George Langelaan, histórias muito populares no cinema. O ponto de partida é sempre o do cientista cuja arrogância o leva a tentar substituir Deus, desafiando os limites do conhecimento contra todas as indicações éticas e morais, acabando por ser cobaia das suas experiências, as quais o castigarão como uma maldição que terá de carregar até ser destruído.

No caso de O Homem com Raios X nos Olhos é a visão que o protagonista, Dr. James Xavier (ou X, o citado Milland) quer melhorar, trazendo à sensibilidade humana outras zonas do espectro luminoso, passando, no limite, a ver através de quaisquer objectos (roupa, paredes, e o próprio tecido humano). Se de intenções benévolas (X utiliza pela primeira vez o seu dom numa intervenção cirúrgica que de outro modo falharia), cedo a incompreensão de quem o rodeia lança-o numa fuga desesperada, e X tem passa a viver escondido. Após várias peripécias, X é encontrado pela única colega que nele confia, a Drª. Diane Fairfax (Diana Van der Vlis), que tenta regenerá-lo e trazê-lo de volta a uma vida na ciência, depois de ele passar o tempo numa feira de atracções com um número de vidente. Tudo volta a correr mal, e numa fuga por um templo religioso, X leva à letra a frase bíblica que manda arrancar um olho que nos tenha escandalizado.

Com efeitos especiais que o próprio Corman hoje lamenta não poderem ter sido melhores, mas que não diminuem em nada a obra, O Homem com Raios X nos Olhos vale por esse «olhar» tão humano de quem quer desafiar todas as autoridades, com risco da sua própria vida, e pela interpretação de Milland, arrogante e derrotado em doses equivalentes. Mais que um conto de ficção científica, o filme é uma metáfora sobre os limites do conhecimento humano e a nossa relação com o transcendente, seja ele científico ou religioso, na atitude tão humana entre a descuidada arrogância e o pessimismo torturante.

Mesmo nos dias de hoje, onde ritmos e imagética são construídos para serem chocantes, O Homem com Raios X nos Olhos impressiona, pela cuidada estética e efeitos hipnóticos (de lembrar que o LSD começou a ser experimentado em larga escala na década de 60), pela ideia, e pela aterradora desolação do seu protagonista.

Ainda no MOTELX, Corman contou ainda com mais tarde leu um ensaio de Stephen King, onde era sugerido um final diferente, e do qual o próprio Corman hoje gosta mais. Quem sabe isso seja um motivo para um futuro remake. Roger Corman não negou que tem essa esperança.

Review overview

Summary

Com a estética própria das cores garridas da AIP dos anos 60, e o comentário social de uma época em transformação, X é o perfeito filme de terror de ficção científica, conduzido pelo torturado e arrogante Ray Milland, o homem que queria ver tanto quanto Deus.

Ratings in depth

  • Argumento
  • Interpretação
  • Produção
  • Realização
4 10 muito bom

Comentários