Better Watch Out é uma comédia de terror referencial com uma reviravolta. E não, não é o facto de se passar na quadra natalícia.
O Natal é um período festivo familiar que tem inspirado inúmeros filmes dos mais variados géneros ao longo dos anos. São, normalmente, filmes seguros e apaziguadores, por vezes comédias, para que toda a família se possa sentar em frente ao ecrã para um serão de paz, harmonia e íntegros valores cristãos. Mas ocasionalmente a quadra natalícia também inspira costelas mais subversivas que aproveitam a data para nos oferecer títulos que viram do avesso as convenções das festividades. Desde comédias até títulos de terror, passando por animações infantis, podemos apontar títulos como O Fatal Silêncio da Noite (Charles E. Sellier Jr., 1984), Gremlins – O Pequeno Monstro (Joe Dante, 1984), SOS Fantasmas (Richard Donner, 1988) ou O Estranho Mundo de Jack (Henry Selick, 1993), entre muitos outros. Estes são títulos que se aproveitam da iconografia da data e desafiam as expectativas do que normalmente esperamos do Natal através do uso do humor, do terror e, em alguns casos, de uma equilibrada mistura dos dois.
Em Better Watch Out — produção de 2016 com o título original Safe Neighborhood, que só irá estrear nos EUA em Outubro próximo com o novo título — o realizador e coargumentista Chris Peckover aproveita a familiaridade da premissa do enorme sucesso de 1990 Sozinho em Casa (Chris Columbus) para dar-lhe o tratamento da clássica história de terror em que uma habitação é invadida — ainda para mais com uma babysitter como única protecção — inovada em 1974 por Bob Clark no clássico Férias Assombradas, apenas para nos puxar o tapete de baixo dos pés e voltar a baralhar o jogo.
Nas férias de Natal, os pais de Luke, um rapaz de 12 anos, vão jantar fora deixando-o ao cuidado da habitual babysitter adolescente Ashley, por quem o miúdo tem uma paixoneta. No decorrer da noite são ameaçados por uma figura misteriosa e percebem que estão encurralados na habitação sem possibilidade de comunicar com o exterior. Quando percebem que vão ter de lidar com a situação sozinhos armam-se com a pistola do pai de Luke para se defenderem, mas nem tudo se vai revelar ser como parece.
O que começa por ser um convencional filme de suspense, transforma-se inesperadamente num filme diferente através de uma reviravolta a meio caminho que não vou aqui revelar para não estragar a surpresa. Este é o maior trunfo do filme: enquanto estamos a processar as referências que invoca, mapeando os próximos passos previsíveis da narrativa, conseguimos ser apanhados na curva num momento realmente inesperado que nos atira para o território do Brincadeiras Perigosas (Michael Haneke, 1997 e 2007) num cenário natalício e adolescente.
O problema é que depois deste momento o filme perde toda a tensão que tinha conseguido construir — ironicamente — enquanto exercício puro de género. Depois da surpresa esgotada, esgota-se também a ameaça, transferida para uma figura pouco convincente. Não obstante alguns momentos de leveza humorística e outros de original violência referencial, Better Watch Out acaba por ser uma desilusão que, apesar disso, irá certamente encontrar o seu público se vier a estrear em Portugal comercialmente.
Review overview
Summary
Better Watch Out surpreende mais que assusta e não diverte tanto como seria desejável.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização