No mesmo ano em que a célebre entrevista de Alfred Hitchcock a François Truffaut passou ao cinema, chegou também aos ecrãs De Palma (2015), um documentário-entrevista sobre a carreira do movie brat que se tornou o mais dedicado dos admiradores do mestre inglês do suspense.
Em 1960, com apenas 20 anos, Brian De Palma realizava a sua primeira curta-metragem. Influenciado pelo novo cinema europeu, estudando cinema na Universidade, e procurando trabalhar com autores de vanguarda, De Palma começou uma carreira que ainda perdura, do cinema independente aos grandes estúdios, da amizade dos movie brats (Scorsese, Coppola, Spielberg, Lucas) que reimaginaram os anos 70, à busca de uma voz artística, feita de obsessões pessoais e uma sempre presente homenagem a Alfred Hitchcock, de um cinema quase marginal a grandes blockbusters.
É esse retrato que Noah Baumbach e Jake Paltrow nos trazem, num filme de 147 minutos, que é antes de mais uma entrevista, com um dos grandes mestres do thriller moderno. Tudo o que nos chega é De Palma em discurso directo, falando-nos do início da sua carreira, das primeiras curtas-metragens enquanto estudava, da descoberta de Robert DeNiro, da amizade com os movie brats, da sua relação com o cinema de Hitchcock, dos «seus» compositores, dos seus problemas com a crítica e o sistema de Hollywood. Principalmente, De Palma fala-nos das motivações e caminhos na feitura de cada filme, explicando opções criativas, e discutindo influências (de Orson Welles a Kubrick, de Eisenstein a Godard).
Embora em todo o filme só se ouça a voz de Brian De Palma, há como que um diálogo entre as palavras do autor e os inúmeros excertos que vão ilustrando o que ele diz. Tal confere ao documentário um enorme dinamismo, não possível de adivinhar se pensarmos que todo o filme é um longo monólogo. Nele encontramos um Brian De Palma já com 75 anos, arguto, sincero na sua auto-crítica, generoso nas explicações, algo amargo para com o sistema que tantas vezes combateu, mas sem perder um sentido de humor que torna o documentário ainda mais leve e interessante de seguir.
Não só quem gosta de Brian De Palma, mas também todos aqueles que gostam de pensar os caminhos que levam à construção de um filme, acharão certamente este De Palma um documento preciosíssimo.
Review overview
Summary
Contado na primeira pessoa, De Palma segue, com boa disposição, a carreira daquele que é um dos mestres do thriller moderno, explicando opções e caminhos criativos, bem como a tortuosa relação do autor que, para manter a sua voz criativa, tantas vezes teve de irritar Hollywood.