Promessa obrigatória depois de The Conjuring 2 – A Evocação (2016), The Nun – A Freira Maldita (2018) é a prova de que também no terror é possível fidelizar um público para uma serialização de histórias ao jeito da Marvel, fazendo da originalidade e qualidade elementos terciários.
A vaca (em sentido figurado) criada com o surgimento de The Conjuring – A Evocação (The Conjuring, 2013) de James Wan, continua a dar leite. Vamos já no quinto filme deste universo cinemático, depois de dois Conjurings e dois Annabelles, que se vão enredando com spin-offs que podem funcionar como prequelas (que no caso de Anabelle já ganhou a sua própria prequela), sempre com um ou outro elemento de ligação (o casal Warren, interpretado por Patrick Wilson e Vera Farmiga), que não dificulta a compreensão a quem não viu os outros filmes, mas pisca o olho a quem viu e é fã (olá, Marvel!).
Envolto em grande expectativa – não tivesse ele sido fortemente sugerido em The Conjuring 2 – A Evocação (The Conjuring 2, 2016), de James Wan, a ponto de toda a gente sair do filme e correr para a internet para saber da data de estreia, The Nun – A Freira Maldita, realizado por Corin Hardy, junta-se a esta ideia moderna de serializar o cinema, com histórias contadas em episódios, dos quais possamos sair a dizer «não gostei tanto como do anterior, mas tive que ver pois é neste que se explica isto ou aquilo».
E assim se resume bastante bem The Nun – A Freira Maldita, um filme feito à medida a partir de uma imagem – a freira – para a qual era depois preciso encontrar uma história. E como ninguém nesta franchise quer já criar muito, nem afastar-se dos modelos vencedores, tudo deve ter sido bem simples (não confundir simples com inspirado).
Apostando completamente em terreno conhecido, temos uma história de um ser maligno que habita um convento, o uso tenebroso da iconografia da Igreja Católica (é curioso como os americanos, protestantes na maioria, se refugiam no catolicismo como se essa fosse a única força contra o diabólico), e uma atmosfera gótica que lembra os clássicos dos anos 60 e 70, em particular o universo que a inglesa Hammer Horror nos legou. Senão, veja-se: a acção passa-se na Roménia (só falta dizer que é na Transilvânia), passamos por florestas e cemitérios envoltos em neblina, e vamos ter a um castelo gótico, daqueles cujos habitantes da aldeia mais próxima preferem negar a existência – haverá algo mais cliché? E que tal uma história passada que lembra o início de Drácula de Bram Stoker (Bram Stoker’s Dracula, 1988) de Francis Ford Coppola para explicar a origem do mal?
No filme temos agora a Farmiga mais nova (Taissa, irmã da supracitada Vera, e bem conhecida dos espectadores da série televisiva American Horror Show), uma jovem noviça, levada pelo padre Burke (um Demián Bichir num papel completamente contranatura) para investigar a morte misteriosa de uma freira no dito convento.
Exposta a motivação, não é preciso mais nada para começar o carrossel de sustos. E é disso, afinal que se trata (este, como os filmes da franchise, especialmente depois de James Wan – que ainda conseguia trazer alguma qualidade – deixar as rédeas da realização). E como qualquer ida a uma feira popular, onde se procuram emoções rápidas, não feitas de originalidade ou qualquer razão, mas sim de repetição dos mesmos saltos, gritos e quedas controladas de uma montanha russa que se parece com todas as outras, The Nun – A Freira Maldita é isso mesmo: um conjunto de sustos, de gritos, de aparições rápidas, tudo com base nos repetitivos jump scares, onde basta alguém rodar o botão do volume da banda sonora, para termos o esperado salto da cadeira. É legítimo, claro, e eficaz, como qualquer montanha russa de feira. Mas é batota cinematográfica, simples de identificar.
Como méritos temos a cenografia, e uma não assumida (e talvez nem sequer muito percebida pelos autores) ligação entre a pureza religiosa (na pele da tal noviça, inocente, mas rebelde ao seu modo, tentada, mas resoluta) e a insurgência do mal. Mas é muito pouco contra a pesada máquina da convenção, que vende como pipocas e deve ter já na manga um The Conjuring 3 ou um The Nun 2.
Review overview
Summary
Servindo para compilar referências – o castelo na Roménia, os cemitérios nevoeirentos da Hammer e evocações de profanações medievais tipo Drácula, The Nun - A Freira Maldita é mais um passeio pelo carrossel dos jump scares e sustos de banda sonora, onde tudo surge como esperado e previsível.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização