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[MOTEL/X 2018] Pledge

de Daniel Robbins

bom

A vontade de um grupo de amigos universitários em serem aceites numa república de estudantes transforma-se rapidamente num pesadelo do qual poderão não sair vivos.

 

O cinema norte-americano está recheado de exemplos de filmes sobre ansiedades adolescentes, sejam elas resultado da necessidade de aceitação pelos demais, de uma demanda pela iniciação sexual ou da pressão para se colocarem do lado da malta com estilo. Muitos destes títulos optam pela comédia, vejam-se os casos de filmes como Porky’s (Bob Clark, 1981), American Pie: A Primeira Vez (American Pie, Paul Weitz e Chris Weitz, 1999) ou Super Baldas (Superbad, Greg Mottola, 2007), em que jovens impressionáveis e excitáveis são protagonistas incautos em histórias que transformam as dores de crescimento e entrada na idade adulta em algo do qual merece a pena fazer troça. Pledge, escrito por um dos seus jovens protagonistas, Zack Weiner, e realizado por Daniel Robbins, começa como qualquer uma destas comédias, se ignorarmos a sequência pré-créditos que define o tom do que aí vem.

Justin (Zachery Byrd), Ethan (Phillip Andre Botello) e David (Zack Weiner) são três amigos de longa data que, chegados à universidade, procuram desesperadamente ser aceites por uma qualquer república estudantil. Muito por pressão de David, os restantes aceitam andar de festa em festa apenas para serem ignorados ou humilhados pelos estudantes populares que mal reconhecem a sua existência. Quando Rachel (Erica Boozer), uma rapariga atraente, os aborda e convida para uma festa, os amigos encontram uma fraternidade de sonho numa recôndita mansão. Depois de uma noite de álcool e raparigas, nem querem acreditar quando são convidados por Max (Aaron Dalla Villa), Ricky (Cameron Cowperthwaite) e Bret (Jesse Pimentel) para prestarem juramento. No entanto, torna-se evidente que o abuso infligido no processo ultrapassa os limites do aceitável e rapidamente os amigos vão-se ver encurralados numa luta pela sobrevivência.

Zack Weiner, que esteve presente nas exibições de Pledge no MOTELX 2018 na companhia do actor Jesse Pimentel (que confirmou não ser aparentado de Bruce Campbell, embora ainda nos seja difícil de acreditar), procurava uma ideia para um bom filme de terror. Ao investigar o fenómeno dos cultos, percebeu haver uma proximidade temática entre estes e o sistema de fraternidades e repúblicas universitárias, onde os rituais, as hierarquias, as tradições e os juramentos colocam muitas vezes em causa a individualidade em nome de um prometido sucesso, tanto académico como profissional, e o bem comum da congregação como um todo. Zack afirmou ter encontrado na vertente de abuso e bullying de uma minoria sobre uma maioria apática e permissiva um espelho da América actual, tornado ainda mais assustador pelos resultados das últimas eleições presidenciais no seu país.

Se é verdade que este enquadramento temático se encontra em Pledge, também é verdade que o filme não se esforça para ser político nem ter uma agenda social, limitando-se a ser uma competente fita de terror em que a normalidade vai sendo enviesada aos poucos-e-poucos até que, quando os protagonistas percebem que se encontram numa cilada, a violência irrompe sem misericórdia. Não obstante a possível discussão sobre a verosimilhança das humilhações a que se sujeitam, quando os amigos concordam sobre a sua situação, estamos aprisionados com eles para lá do ponto de não retorno, e a única saída será sempre, na melhor das hipóteses, paga com sangue.

Felizmente, Daniel Robbins é económico na sua construção narrativa e não faz questão de nos torturar em conjunto com as suas personagens, e Pledge revela-se como um eficiente exercício de tensão e violência que garante um vislumbre de satisfação e sentido de justiça imediatamente antes de fechar o filme numa nota de pessimismo e cinismo.

Review overview

Summary

Pledge começa por trazer à memória comédias de adolescentes para acabar numa espiral de violência numa competente piscadela de olho às burguesas e enraizadas instituições americanas.

Ratings in depth

  • Argumento
  • Interpretação
  • Produção
  • Realização
3 10 bom

Comentários

Written by António Araújo

Cinéfilo, mascara-se de escritor nas horas vagas, para se revelar em noites de lua cheia como apaixonado podcaster.

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