Shin’ichirô Ueda tem feito furor em vários festivais com um cruzamento de humor e o género batido de zombies num exercício filmado num único plano sequência.
Se do Japão esperamos cinema extremo no género de terror, Shin’ichirô Ueda vem provar com One Cut of the Dead que também podemos esperar sentido de humor proveniente do país do sol nascente. Nele, um ambicioso realizador de terceira categoria aterroriza a pequena equipa de filmagens de um modesto filme de zombies quando as instalações abandonadas onde se encontram é invadida por zombies de verdade. Na sua ambição, o realizador ordena que se continue a filmar, com consequências trágicas captadas num único plano sequência.
Ueda filma aqui um exercício metafísico hilariante sobre o próprio acto de fazer cinema, utilizando o artifício da filmagem sem cortes para mostrar as peripécias atrás das câmaras que possibilitam e viabilizam aquilo que é captado em frente a elas. Infelizmente, contar mais do que é isto é estragar a experiência de descobrir One Cut of the Dead numa sala de cinema, por isso se o planeiam fazer não leiam daqui em diante.
*** ALERTA DE SPOILERS ***
One Cut of the Dead é uma experiência que merece a pena ser descoberta com o desenrolar do filme. Depois de nos ser apresentado o tal plano sequência descrito na sinopse, com genérico final incluído — facto que desconcerta sobremaneira a audiência —, somos levados atrás no tempo, seis meses, mais precisamente, para presenciar ao convite de ambiciosos produtores televisivos ao realizador para o projecto em tempo real e um único take a que assistimos. Torna-se imediatamente evidente que iremos assistir daqui em diante aos acontecimentos por trás do filme, incluindo as reuniões de produção e ensaios, onde vamos conhecendo as jovens estrelas com manias de vedetismo, o actor com necessidades muito específicas no tipo de água que bebe, correndo o risco de sofrer de diarreia, ou o actor alcoólico em vias de se afastar da filha por causa do seu vício, problema também sentido na pele pelo realizador que mantém uma relação tremida, no mínimo, com a sua própria filha.
Quando chega o momento das filmagens e tudo corre mal, começam as gargalhadas provocadas pelo reconhecimento dos momentos assistidos previamente, agora enquadrados sobre uma nova perspectiva, normalmente com a equipa técnica em pânico a improvisar tanto por detrás das câmaras como os actores a improvisar à frente delas. O que tinha sido uma experiência relativamente divertida, recheada de erros e momentos estranhos, torna-se numa narrativa de humor habilmente rendilhado, consequência de um acumular de situações de conflito e dificuldade que, pela força da vontade de fazer um filme, se traduz num produto final com capacidade de agradar até aos executivos engravatados a acompanhar a transmissão no estúdio. No final, além do sucesso do filme produzido, há direito ainda a uma reconciliação familiar para acabar em beleza.
Sem dúvida nenhuma, um dos momentos mais divertidos do MOTELX, com uma recepção entusiasmada da plateia que assistiu à sua exibição única no festival.
Review overview
Summary
One Cut of the Dead é um exercício metafísico hilariante sobre o próprio acto de fazer cinema que merece a pena ser descoberto com o desenrolar do filme.
Ratings in depth
-
Argumento
-
Interpretação
-
Produção
-
Realização