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[MOTEL/X 2018] Mandy

de Panos Cosmatos

mau

Mandy, a segunda longa-metragem de Panos Cosmatos, interpretada por Nicolas Cage e Andrea Riseborough, estreou no MOTEL/X chegada do Festival de Cinema Sundance com fama de filme-sensação.

 

Actualmente, Nicolas Cage parece escolher os seus filmes tão casualmente como quem escolhe o que quer comer ao pequeno-almoço. Conhecido por oferecer desde sempre uma energia maníaca e maior que a vida a alguns dos seus desempenhos, parece estar decidido a cristalizar essa sua imagem numa fase da carreira em que a qualidade vai sendo inversamente proporcional ao número de filmes que vai adicionando ao seu currículo. Nesse sentido, os materiais promocionais de Mandy não espantaram ao revelar o actor tresloucado numa sangrenta senda de vingança. 

A surpresa prendia-se com a estética garrida e o ambiente psicadélico que davam uma amostra da realização de um nome familiar: Panos Cosmatos. Digo familiar pois Panos é, nem mais nem menos, que o filho de George P. Cosmatos, realizador com uma carreira pontuada por duas colaborações com Sylvester Stallone — Rambo II – A Vingança do Herói (1985) e Cobra, o Braço Forte da Lei (1986) — e cujo ponto alto terá sido o sucesso de culto Tombstone (1993).

Aparecendo oito anos depois do filme de estreia como realizador em 2010, o pouco visto Beyond the Black Rainbow, o ambicioso Mandy parece seguir o registo alucinatório de narrativa minimalista do anterior. Nicolas Cage é Red Miller, um lenhador que vive no isolamento da floresta com o amor da sua vida, Mandy Bloom, a camaleónica e cativante Andrea Riseborough. Quando Mandy é vítima de um culto religioso liderado por Sand Jeremiah, Linus Roache em modo de entrega total, em conluio com estranhas criaturas, Red parte numa violenta missão decidido a vingar a sua morte. 

A primeira e imediata impressão é que Panos Cosmatos tem um estilo próprio e vincado. A fotografia colorida, o ritmo lento e deliberado, as sobreposições de imagens, o registo analógico de uma narrativa situada no ano de 1983, tudo isto são características que invocam elementos supra-naturais enraizadas em espiritualidade e culto, tanto de natureza religiosa como astrológica. A ajudar, a assombrosa banda sonora do malogrado Jóhann Jóhannsson é um complemento essencial para o ambiente desenhado pelo realizador a quem não falta ambição, coragem e sentido estético. Quando são invocados o que aparentam ser demónios motoqueiros que se alimentam de carne humana e uma substância psicotrópica que abre a mente ao conhecimento sobre o universo, tudo parece encaixar como uma luva.

À partida, esta parece uma proposta interessante e intrigante. Mandy pode ser descrito como o resultado do cruzamento de Destino Infernal (2011) — no original, Drive Angry, também com Nicolas Cage — com Fogo Maldito (1987) — Hellraiser, o clássico de culto de Clive Barker — realizado por Dario Argento num estado alucinatório provocado por LSD. O problema é que estas partes não se consolidam num todo satisfatório. Por entre o misticismo, os inchados monólogos de Sand Jeremiah e a violência com que Red vai despachando cada uma das personagens responsáveis pela morte bárbara de Mandy, fica por perceber se Cosmatos está interessado em algo mais que o lado cénico de cada uma das sequências que criou.

Uma coisa torna-se óbvia: o público vai a Mandy à procura de encontrar um Nicolas Cage destravado e que corresponda às expectativas. Apesar de alguns pontuais abandonos de sala ao longo da exibição, o público manifesta a sua apreciação nos momentos em que Cage lhe oferece aquilo que dele se espera. Num momento mais descabelado, puderam-se ouvir inclusivamente, na única exibição do filme no MOTEL/X, palmas entusiasmadas. A sensação, no entanto, é que estes são raros momentos de gozo que servem como fraca recompensa por tudo o resto que os envolve. Como se tudo o que vem antes fosse a obrigação antes da diversão.

Por certo, Mandy irá dividir opiniões. Uma coisa é certa: a sua ambição e ousadia são de louvar. Visualmente deslumbrante, envolvente, hipnótico e com uma banda sonora de excepção, é uma pena que, no final, seja vazio exercício de estilo.

Review overview

Summary

Por certo, Mandy irá dividir opiniões. Uma coisa é certa: a sua ambição e ousadia são de louvar. Visualmente deslumbrante, envolvente, hipnótico e com uma banda sonora de excepção, é uma pena que, no final, seja vazio exercício de estilo.

Ratings in depth

  • Argumento
  • Interpretação
  • Produção
  • Realização
2 10 mau

Comentários

Written by António Araújo

Cinéfilo, mascara-se de escritor nas horas vagas, para se revelar em noites de lua cheia como apaixonado podcaster.

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