Lukas Feigelfeld escreve e realiza um filme austero que remete para o mesmo imaginário de A Bruxa, em que medo e superstição podem ou não ser o resultado de uma realidade supra-natural.
Nos Alpes, no século XV, mãe e filha vivem em isolamento numa cabana no meio do bosque. No rigor do Inverno, por entre ameaças de quem as olha com desconfiança — algumas veladas, outras explícitas —, a mãe adoece e morre, deixando Albrun, ainda criança, sozinha. Vinte anos mais tarde, Albrun encontra-se na mesma situação, mãe solteira de uma bebé, e isolada de uma comunidade que não aceita quem crê ser pagão ou coisa pior. Confrontada com os seus impulsos e desejos, a jovem mãe navega uma linha ténue entre a realidade é o delírio psicótico, confrontando-se com a intolerância de quem a rodeia, incluindo quem finja bondade para mais tarde a humilhar e violentar, bem como com a possibilidade supra-natural da sua própria natureza.
Hazagussa, escrito e realizado por Lukas Feigelfeld, invoca imediatamente a memória recente de A Bruxa, de Robert Eggers, tanto pela sua temática, como pelas opções estéticas e narrativas. Tal como neste divisivo filme, Feigelfeld opta por um ritmo deliberadamente lento, acentuando cada acção das personagens em cenas de parcos diálogos, porém recheadas de significado. O efeito é uma narrativa ambígua e desafiante que obriga a uma extrema concentração da parte do espectador, e que a espaços resvala do efeito hipnótico pretendido para o domínio do aborrecido.
Baseado em mitos e lendas que habitam os bosques da região — hazagussa é um termo em Germânico Antigo, de onde derivou a designação actual para bruxa, que representa o espírito feminino da mitologia nórdica que vagueia a fronteira que separa o mundo dos homens do mundo dos deuses — o jovem autor nascido em Viena constrói um filme austero e a espaços perturbante — veja-se como exemplo a sequência com a mãe de Albrun que invoca abuso infantil, sexualidade e superstição (?) no momento em que encara a morte —, mas acima de tudo com uma respiração cinematográfica rara que entrará em choque com o ritmo a que a maior parte dos espectadores actuais está habituada.
Hazagussa confronta, frustra e repele, mas entranha-se na pele e persegue-nos muito para além do tempo da sua duração.
Review overview
Summary
Hazagussa confronta, frustra e repele, mas entranha-se na pele e persegue-nos muito para além do tempo da sua duração.
Ratings in depth
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Argumento
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Realização
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Interpretação
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Produção