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[MOTEL/X 2018] Elizabeth Harvest

de Sebastian Gutierrez

mau

Altamente estilizado, Elizabeth Harvest é mais um thriller psicológico que coloca a sua personagem principal numa profunda crise de identidade.

 

Sebastian Gutierrez é um argumentista e realizador que se estreou com a sua primeira longa-metragem em 1998. Numa carreira que já leva uns respeitáveis vinte anos, nunca viu o seu nome ser reconhecido pelo grande público. Apesar das muitas colaborações com a sua parceira, a reputada Carla Gugino – entre as quais o díptico Women in Trouble (2009) / Elektra Luxx (2010) -, Gutierrez teve os seus cinco minutos de fama ao colaborar na escrita do muito badalado filme que trazia a língua firmemente plantada no queixo, Serpentes a Bordo (Snakes on a Plane, David R. Ellis, 2006). Na sessão de encerramento do MOTELX 2018, foi exibido o seu filme mais recente, que volta a contar com Gugino num elenco reduzido e curioso em que ainda podemos encontrar a modelo já com alguma experência no grande ecrã Abbey Lee, o sempre excelente Ciarán Hinds, o relativamente desconhecido Matthew Beard e o saudoso Dylan Baker.

E o início do filme é cativantemente misterioso. Elizabeth (Lee), a preceito dos seus maiores sonhos, casou com o homem da sua vida, o brilhante cientista Henry (Hinds), que a leva para a sua luxuosa residência mantida pelos empregados Claire (Gugino) e Oliver (Beard). Depois de lhe oferecer sumptuosas refeições e a levar a conhecer todos os cantos da casa, proíbe-a de entrar numa determinada divisão, apelando ao laço sagrado de confiança entre marido e mulher. Quando Elizabeth é deixada sozinha em casa, a sua curiosidade leva-a a investigar o que está por trás daquela porta fechada.

O primeiro acto, ambiental e atmosférico, feito de cores e ângulos arquitectónicos que parecem oferecer personalidade à mansão, e com piscadelas de olho ao registo estético de Brian De Palma – olá split screens -, tem a coragem de oferecer uma reviravolta  que, em muitos outros filmes, estaria reservada para o final. Não menciono outros títulos com medo de que revelam demais sobre este filme, mas resta dizer que esta revelação não é original e introduz a Elizabeth conflitos interiores e questões de identidade. Esta surpresa prematura é a sua maior virtude, mas também o seu maior defeito. Passado o mistério, o filme nunca mais recupera o embalo e esforça-se para justificar o seu enredo oferecendo longas analepses que trazem claridade onde se preferiria ao invés o mistério. Nesta tentativa de jogar com uma estrutura temporal fracturada, perde-se a força da premissa, especialmente porque a sua temática se revela também ela derivativa e desperdiçada nos constantes avanços e recuos que vão servindo apenas para informarem as personagens no ecrã daquilo que nós, espectadores, há muito inferimos. No final, na procura de uma teia de surpresas e revelações, Gutierrez parece ter perdido o fio à meada e perdeu uma boa oportunidade para criar uma narrativa de horror acutilante, ou no mínimo, com suspense e emoção,

Elizabeth Harvest revela-se, em última instância, como uma desilusão, apesar da cativante fotografia, do seu sentido estético, e do excelente trabalho de câmara dos seus actores mais veteranos, estrutura sólida para as interpretações mais tremidas de Lee e Beard.

Review overview

Summary

Elizabeth Harvest tem um arranque promissor, ambiental, atmosférico e cativante, mas é, em última instância, uma desilusão, derivativo e vazio de emoção.

Ratings in depth

  • Argumento
  • Interpretação
  • Produção
  • Realização
2 10 mau

Comentários

Written by António Araújo

Cinéfilo, mascara-se de escritor nas horas vagas, para se revelar em noites de lua cheia como apaixonado podcaster.

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