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[MOTEL/X 2018] Anna and the Apocalypse

de John McPhail

bom

Anna and the Apocalypse, um musical de Natal para adolescentes… com zombies, oferece uma combinação improvável de géneros numa alternativa despretensiosa e refrescante à restante programação do festival.

 

Imaginem a genial cena de Shaun of the Dead em que Edgar Wright, no seu estilo característico, encenou uma cena de paulada a um zombie ao ritmo de Don’t Stop Me Now dos Queen. Anna and the Apocalypse recupera esse espírito e leva as coisas mais além: transforma uma comédia adolescente com zombies num musical. Ou será que é um musical adolescente de pendor humorístico invadido por zombies? Tudo isto num omnipresente, se bem que algo irrelevante, enquadramento natalício. John McPhail, realizador britânico com uma longa-metragem no currículo — Where Do We Go From Here? (2015) — oferece uma leitura refrescante, se bem que não muito original, do batido género do filme de mortos-vivos. Convém não esquecer que séries televisivas como Buffy, Caçadora de Vampiros (1996-2003), de Joss Whedon, ou Community (2009-2015), de Dan Harmon, usaram o formato musical em bem-sucedidos cruzamentos de géneros.

McPhail reune um talentoso elenco de novas caras que começam por encarnar batidas personagens adolescentes de uma típica comédia situada em ambiente escolar — incluindo sonhos, desilusões, bullying, namoros e amores não correspondidos — que acabam a exteriorizar a sua vida interior em elaborados números musicais. Quando a “surpresa” narrativa se começa a revelar, o realizador referencia o filme de Wright, notando-se a tentação para emular o seu estilo a espaços. Felizmente, esse impulso é domado e Anna and the Apocalypse demonstra uma personalidade própria que, se nem sempre acerta no alvo, facilmente se lhe reconhece uma cativante energia e louvável honestidade. A excepção às caras desconhecidas é Paul Kaye, veterano actor celebrizado pela personagem Dennis Pennis e conhecido pela sua participação em A Guerra dos Tronos (2011- ) como o (aspirante) reitor que encarna o conflito no âmago desta história: a sonhadora e esperançosa perspectiva adolescente em contraponto com a desilusão e cinismo da maturidade.

Depois do entusiasmo musical do início, e da comédia macabra dos ataques zombie, as próprias personagens reconhecem que a situação em que se encontram é séria. Sem nunca perder o tom nem o tino, McPhail e os guionistas Alan McDonald e Ryan McHenry dedicam-se no último acto a apelar ao sentimento, cozinhando sequência atrás de sequência em que os elementos do elenco que fomos acompanhando vão aprendendo duras lições sobre vida e perda. Comparando novamente (e inevitavelmente) com Shaun of the Dead, um exemplo maior do equilíbrio de distintos tons, Anna and the Apocalypse sai uns furos abaixo por abusar das tentativas da recorrência ao lenço. Felizmente, no final que nos faz questão de sublinhar a grosso o enquadramento natalício, o saldo é positivo e encaramos o fim do mundo com um sorriso nos lábios e um bichinho nos ouvidos.

Review overview

Summary

Apesar de não ser totalmente original, Anna and the Apocalypse é uma refrescante abordagem ao género zombie, com humor, emoção e cantigas.

Ratings in depth

  • Argumento
  • Interpretação
  • Produção
  • Realização
3 10 bom

Comentários

Written by António Araújo

Cinéfilo, mascara-se de escritor nas horas vagas, para se revelar em noites de lua cheia como apaixonado podcaster.

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