Será Maléfica a Mestre do Mal?
Sendo um amante assumido do trabalho que os argumentistas fizeram para acrescentar à vilã Maléfica uma história humana e sustentada, foi com grande entusiasmo que aguardei e vi a sequela daquele que foi um filme de origem que tanto divergiu o público. Todavia, se no primeiro filme, estreado no ano de 2014, a lenda foi reinterpretada, na sequência a mesma volta a acrescentar matéria ao clássico. Com isto, não ficamos só a conhecer o como de Maléfica ser vista por todos como vilã, como quem o fez.
Lendas e interpretações à parta, a narrativa mergulha rapidamente num mundo mágico já introduzindo no primeiro filme, para passar a desenvolvê-lo em personagens mágicas cheias de personalidade e que completam a história principal. A banda sonora, bebendo da melodia do primeiro filme, continua a definir a personalidade das personagens, introduzindo brilhantemente a princesa Aurora (Elle Fanning), príncipe Philipe (Harris Dickinson a substituir o papel originalmente desempenhado por Brenton Thwaites) e, claro está, Maléfica (Angelina Jolie). Como não poderia deixar de ser, Jolie dá-nos uma performance deliciosa, carregando toda a narrativa na procura do seu próprio eu, à medida que se vê confrontada com a ameaça da Rainha Ingrith, mãe de Philipe, interpretada pela belíssima Michelle Pfeiffer.
Com a sua figura de “mãe” posta em causa após Aurora aceitar casar com Philipe de forma a unir o reino mágico e humano, é a Rainha Ingrith que amaldiçoa o próprio marido, tornado Aurora marioneta da sua vingança por destruir todo o ser mágico. Neste confronto entre as duas figuras femininas do filme, Maléfica é acusada de ela ter amaldiçoado o rei, deixando Aurora confusa e a acreditar que de facto, na sua fúria, a sua “mãe” Maléfica realizou o sucedido. Por meio desta rebelião e confusão no crescimento de Aurora, damos conta de como a Rainha tem soldados e um elemento do mundo mágico a construir armas de ferro e armadilhadas, capazes mesmo de matar fadas. É por meio deste confronto que Maléfica é atingida, caindo no oceano.
Com Aurora a assumir um papel completamente contra a sua natureza de espírito livre e preocupada pelo desaparecimento de Maléfica – e para que esta reverta a maldição -, damos conta de como esta última foi resgatada por seres da sua espécie. Uma condenada a viver longe dos humanos, que tudo destroem. É por meio destes paralelismos que a narrativa nos recorda das crises ambientais e sociais em que hoje vivemos, cimentando estes elementos como pilares da história. Tal acontece não só pelos diálogos fluídos e interações brilhantes entre personagens, assim como dos momentos de ação, tão bem realizados por Joachim Rønning (Piratas das Caraíbas: Homens Mortos Não Contam Histórias). Não só os momentos de ação ganham destaque, mas todos os momentos de voos e tenções, conseguindo elevar e rivalizar com o primeiro filme.
Numa altura em que Hollywood vai, aos poucos, dando destaque ao papel e figura feminina e com uma sequela a dar ênfase a essa mudança de paradigma, foi com surpresa que encontrei nomes como Ed Skrein (Deadpool, Alita) e Chiwetel Ejiofor (12 Anos Escravo) a juntarem-se às personagens Diaval (Sam Riley), Principe Philipe e do Rei John (Robert Lindsay), sustentando a narrativa secundária e que culminou com uma épica batalha no terceiro ato.
É por meio desta realização que a história se precipita, quase como seguimento direto ao filme de 2014, não dando o espetador a perceção das quase duas horas da longa-metragem. Alusões a episódios de discriminação complementam a trama e o desenvolvimento da alienação de Aurora e do príncipe Philipe, permitindo a Aurora compreender verdadeiramente o que é o papel de mãe. Angelina Jolie, por meio da sua atuação e argumento, consegue explicitar as dificuldades de se ser mãe, aliado aos desafios do meio exterior e confrontos de uma filha adolescente. Na verdade, se no final do primeiro filme a emoção tomou conta da história de Maléfica e Aurora, é no terceiro ato que um outro momento tocante realça a visão dos argumentistas. Dando valor e surpresa ao espetador está o aparecimento em live-action da verdadeira forma de Maléfica, inspirada pelo clássico de 1959. Surgindo uma reinterpretação clássica da mitológica personagem “Fénix”, Maléfica: Mestre do Mal encerra-se mais como Maléfica: Mestre da Paz.
É certo que ao longo do filme Maléfica procura abandonar a sua ira, tão presente na sua natureza por se esconder do povo humano, porém, e tal como no primeiro, não vemos tantas peripécias no lado da magia negra, o que poderá dar a alguns espetadores um sentimento de defraudamento. Magias à parte, a sequela consegue entregar um filme familiar, cheio de ação e aventura, assim como da introspeção característica dos filmes Disney.
Review overview
Summary
Apesar de elementos narrativos talvez deslocados, a Disney entregou uma das melhores sequelas de sempre!
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização