A quem pensar que o Luxemburgo é pouco mais que uma cidade, Gutland (2018) mostra que muito se pode esconder no seu mundo rural profundo.
Gutland, a primeira longa-metragem do jovem realizador luxemburguês Govinda Van Maele, leva-nos ao Luxemburgo agrícola, por entre estrume de vacarias e o pó da colheita do milho, onde o forasteiro alemão Jens (Frederick Lau) vai parar, pedindo desesperadamente emprego numa comunidade fechada que não está habituada a lidar com o exterior.
Disfarçado de drama rural, Gutland cedo começa a evoluir para uma espécie de thriller velado, onde não sabemos o que está em causa, mas onde o desconforto de alguma coisa não bater certo se começa a insinuar. Sendo-lhe rapidamente oferecido o emprego de que precisa, aceite pela beleza local Lucy – a actriz Vicky Krieps, que vimos em A Linha Fantasma (Phantom Thread, Paul Thomas Anderson, 2017) –, intimado a ser músico na banda filarmónica, sem saber ler ou tocar uma nota, e descobrindo estranhas fotos que podem ou não ter levado a um crime, Jens começa a ser um observador algo assustado num mundo que para ele era apenas um refúgio temporário.
Feito das tarefas e ritmos da agro-pecuária, filmados com realismo, tempo e crueza, Gutland prende-nos pelo mistério que talvez nem o seja, tornando-se quase um comentário sobre as diferenças entre o mundo urbano que tão bem conhecemos e o campestre, que para os habitantes das cidades parece de outro planeta.
Por isso mesmo Gutland é também um conto de transformação, de adaptação e remodelação de vidas em face de novas realidades e pessoas, mesmo que trazido de modo algo enigmático, dir-se-ia até surreal. Talvez por isso, entre inquietudes e perplexidades, talvez a solução final seja mais simples do que parece.
Review overview
Summary
Passado no universo rural do Luxemburgo, Gutland é um conto austero e agreste que ganha contornos de thriller, numa trama que roça o surreal.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização