Concorrente ao Urso de Ouro do Festival de Berlim de 2018, 3 Tage in Oberon imagina com emoção uma das últimas entrevistas da conhecida Romy Schneider.
Romy Schneider foi uma das mais conhecidas actrizes do cinema europeu. Começando pelos filmes de adolescência que lhe granjearam fama, nos quais interpretou a imperatriz Elisabeth da Áustria, popularizada como Sissi, Schneider substituiu-a com outra fama, a dos escândalos da sua vida privada, numa carreira dedicada ao cinema de autor europeu, principalmente em França, e durante a qual fez tudo – mesmo que muitas vezes em modo auto-destrutivo – para se desligar da imagem de inocente pureza que não queria que vissem como sua.
Uma biopic baseada em três dias nos quais Romy Schneider deu uma das suas últimas longas entrevistas, na qual se desnudou dolorosamente perante perguntas intrusivas e impiedosas parece, logo à partida, um projecto demasiado insólito, e logo filmado a preto e branco, procurando um intimismo deslavado de artifícios para vermos uma Romy Schneider desprovida das defesas da maquilhagem ou truques de luz e montagem como nos seus filmes.
Foi a isso que se propôs Emily Atef, contando com a consagrada actriz alemã Marie Bäumer, a qual ostenta uma semelhança com a diva austríaca que chega a assustar o espectador mais incauto. É que, à distância, olhando apenas para algum cartaz do filme, a dúvida surge se não estamos mesmo a ver Romy Schneider daqueles três dias da estância de reabilitação de Quiberon, na Bretanha.
Estamos em 1981. Então com 42 anos, dependências de bebida e comprimidos, traumas de separações, difícil relacionamento com os filhos e dificuldade para se focar no trabalho, Romy Schneider tentava mais uma cura, na qual não acredita e, ao mesmo tempo, não deseja. E nesse ambiente doentio, onde memórias, desejos e medos são amarras constantes, Emily Atef imagina o que teria sentido, dito e feito Schneider, na presença da (fictícia) amiga de infância de Salzburgo Hilde (Birgit Minichmayr), do fotógrafo e antigo amigo Robert Lebeck (Charly Hübner), e do jornalista Michael Jürgs (Robert Gwisdek).
Com as fotografias reais de Lebeck como ponto de partida, o filme, como as fotos, é intenso, mas triste, é desolado e angustiante, mas cheio de vida, mostrando-nos uma mulher que luta contra si própria, mas continua a errar, com um mundo de emoções dentro de si que são capazes de a transformar no centro de uma festa, onde a sua energia, humildade e generosidade comovem, para cair de seguida na mais triste e incapacitante depressão. E note-se como a câmara de Emily Atef espelha esses estados de espírito, vívida aqui, sombria acolá, ora movendo-se energicamente em longos planos-sequência, ora deixando-se ficar triste, num canto.
Sem tomar partido, nem dar explicações (afinal a controversa morte da actriz ocorreu apenas no ano seguinte, e o filme não chega tão longe), 3 Tage in Oberon é assim como que uma snapshot de três dias, uma foto que se alonga e move, mas não tem a pretensão de capturar mais que momentos, soltos, intensos, difíceis, deixando-nos espaço para preenchermos e compormos a nossa própria versão de Romy Schneider.
Review overview
Summary
Com uma Marie Bäumer brilhante a fazer-nos acreditar estarmos mesmo a ver Romy Schneider, 3 Tage in Oberon imagina três dias de uma famosa entrevista à diva austríaca, num olhar intenso, doloroso e intimista.
Ratings in depth
-
Argumento
-
Interpretação
-
Produção
-
Realização