O actor, tornado realizador, Josef Hader, traz-nos um conto trágico-cómico de solidão humana, numa sátira social de comédia negra.
Actor famoso na Áustria pela carreira nos ecrãs e nos palcos de cabaré, e por cá conhecido pelo filme de encerramento da KINO 2017, no papel titular de Stefan Zweig: Adeus, Europa (Stefan Zweig: Farewell to Europe, Maria Schneider, 2016), Josef Hader estreia-se na realização com Wild Mouse (Wilde Maus 2017), de que escreveu o argumento.
Pleno de um humor negro, que é ao mesmo tempo sátira social, e olhar directo para o ridículo da condição humana, Wild Mouse conta-nos a história do exigente crítico musical Georg Endl (Hader), que um dia é despedido do jornal para onde escreve pelo seu editor-chefe Waller (Jörg Hartmann), que apenas quer cortar despesas, sem preocupações com a qualidade dos artigos. Sem capacidade para lidar com esta realidade, Georg entra em negação, não contando o despedimento à esposa (Pia Hierzegger), não correspondendo aos desejos desta de ter um filho, e entregando-se a fúteis missões de vingança sobre Waller.
Com uma trama simples, mas bem encadeada, Wild Mouse vai-nos mostrando situações onde as personagens são vítimas de si próprias, da sua incapacidade de comunicar, e de corresponder às expectativas do mundo contemporâneo. Do pedantismo de Georg, à intransigência da esposa (que para cúmulo é terapeuta de casais em problemas), do segredo do despedimento à necessidade não partilhada de ter um filho, Georg acaba por encontrar algum conforto nas deambulações pelo Prater, onde faz um novo amigo, Erich (Georg Friedrich) – por sinal um velho colega de escola que lhe batia em criança –, cuja vida simples o inspira, tanto quanto a relação deste com a namorada romena (Crina Semciuc), cujo sucesso se baseia no facto de que nenhum dos dois fala a língua do outro.
Por entre incompreensões, incapacidades de comunicação, e tentativas desesperadas (e cómicas) de vingança, Wild Mouse torna-se uma narrativa compensadora onde os vários momentos, apesar da sua improbabilidade, resultam no realçar do ridículo a que podemos chegar quando preocupações, desejos e incapacidades nos tolhem para lá do razoável e nos deixam sem caminho.
Para estreia, ao conseguir contar uma história trágica de forma ridiculamente divertida, Josef Hader merece o nosso aplauso, algo que, aparentemente o seu personagem, como qualquer crítico pedante que se preze, raramente dava nos seus textos.
Review overview
Summary
Comédia negra sobre os conflitos individuais trazidos pelas pressões da sociedade moderna, numa interessante estreia na realização do actor austríaco Josef Hader.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização