24 Semanas (2016) é a segunda longa-metragem da realizadora Anne Zohra Berrached, e tal como a primeira, Zwei Mütter (2013), um olhar para um doloroso caso de vida, abordado da perspectiva feminina.
Em comum, ambos os filmes de Anne Zohra Berrached têm o tema do desejo e obstáculos da maternidade. No caso anterior esta era desejada por um casal lésbico, com toda a problemática legal e social daí inerente. Agora em 24 Semanas (24 Wochen, no original) é a vez das difíceis decisões a tomar, quando o casal formado pela comediante Astrid Lorenz (Julia Jentsch) e o seu produtor Markus Häger (Bjarne Mädel) recebe a notícia de que o bebé que esperam, não só sofre de síndrome de Down, como tem graves problemas cardíacos que requerem difíceis operações nas primeiras semanas de vida.
A partir daí o filme ganha um sentido único, isto é, uma questão única. É o casal capaz de enfrentar as dificuldades e desejar o filho, ou cederá a abortar, algo que pode, em condições extremas, ser feito legalmente até às nominais 24 semanas? O caminho não é fácil, muito menos linear, entre desejo da maternidade, aceitação dos problemas, resolução de luta, mas também dor, medo, e no final a eterna questão sobre o que é mais egoísta e cobarde: desistir de uma vida, ou fazê-la nascer com todo o sofrimento que isso lhe causará?
24 Semanas não tenta dar respostas, preferindo mostrar os vários lados da questão, e como isso é encarado pelas diferentes personagens. Essa é a sua maior força, revelando uma grande abertura, onde, mesmo que no final se chegue a uma resolução, esta é assumida como aquela que fez sentido àquelas pessoas, naquele momento, naquelas circunstâncias, algo pessoal e intransmissível, como o são todas as decisões íntimas, pessoais e dolorosas. Há no entanto uma vertente em que a realizadora (que é também co-argumentista) não deixa de vincar a sua posição: a de que decisão é puramente feminina, e é sempre o ponto de vista feminino (quer a de Astrid, quer a das pessoas que a rodeiam) que importa. Os homens são, ou frios médicos que expõem factos cruéis, ou o emocional Markus, a dada altura excluído da decisão.
Pela negativa, a tal unidireccionalidade da história, e a necessidade de nos imergir em todos os detalhes, quer médicos, quer visuais, torna 24 Semanas uma espécie de «caso de vida» de discussão em salas de psicologia familiar (ou religiosa, para quem por tal optar), que passa um pouco ao lado do objecto cinematográfico.
Destaque ainda para as interpretações sentidas dos protagonistas, e para a câmara de Friede Clausz, que segue intrusivamente o olhar de Julia Jentsch, o que quer que se esteja a passar em torno, no reforçar de que é apenas o que está dentro de si (criança e decisões) que conta, facto pelo qual grande parte dos planos são o rosto da personagem Astrid, que por três vezes nos encara de modo a pedir a nossa ajuda, cumplicidade ou, talvez, compreensão.
Review overview
Summary
24 Semanas fala-nos dos dilemas de uma gravidez que levanta delicados problemas médicos, éticos e sociais, no que se torna um estudo comovente e intenso, onde o caso de vida supera o objecto cinematográfico.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização