Será que It – Capítulo 2 representa o encerrar de um marco cinematográfico?
Foi nos últimos anos que o género de terror começou a crescer em mim e a despertar a vontade em apreciar um filme desta categoria no grande ecrã. Com a estreia de It – A Coisa (2017) tal não foi exceção. Estava curioso para o que a mente do brilhante Stephen King teria conquistado naquela que é das obras de maior relevo do autor. O filme foi visto, e a vontade em ver o seguinte era muita, levando a esta espera de dois anos. Mas será que valeu a pena?
A realização é soberba. O trabalho de Andy Muschietti foi surreal na forma como conjurou o terror, suspense, às transições entre o elenco mais novo, e as suas personagens, mais de duas décadas depois. Aquando da revelação dos integrantes do Capítulo 2, parte de mim acreditou que James McAvoy (Bill)seria quem teria maior destaque. Estava enganado. O argumento não só lhe dá um papel diferenciador de outros filmes, como dá voz e história de fundo a personagens que tão bem ficamos a conhecer no primeiro filme. Na verdade, a forma como o argumento e realização dão ao telespetador a sensação de fazer parte das vidas adultas das personagens, é abismal. As personalidades das crianças do primeiro filme parecem assentar na perfeição num elenco adulto constituído por nomes como Jessica Chastain (Beverly), Bill Hader (Richie), Isaiah Mustafa (Mike), Jay Ryan (Bem), James Ransone (Eddie) e Andy Bean (Stanley). Todavia, falar de elenco e interpretação não seria o mesmo ao omitir o nome de Bill Skarsgård e o seu trabalho notário com o palhaço que alimenta o terror: Pennywise.
O filme começa com uma cena marcante do livro, trazendo ao telespetador temas atuais, como o bullying e a homossexualidade, dando a Pennywise uma entrada digna de rivalizar, e de forma tenebrosa, com o primeiro filme. As personagens logo se revelam ao darem conta que os desaparecimentos voltaram à cidade do Clube dos Falhados, Derry. Na verdade, é a personagem de Isaiah Mustafa (Mike) que faz a ponte, tendo sido o único que nunca esqueceu o que verdadeiramente ocorreu vinte e sete anos antes.
O argumento leva-nos ao reencontro das personagens assim como ao desaparecimento de uma delas, mostrando-nos, na principal cena do primeiro ato, como as amizades conseguem ser duradouras, mesmo quando o espaço, tempo ou memória, nos trai. O elenco é ajudado por um argumento sólido, dando-nos interação com humor, paixão, carinho e preocupação. Torna-se igualmente delicioso compreender como certas paixões continuam tão vívidas, mesmo após quase duas décadas. Porém, é nesta base que, a meu ver, o filme perde o seu sentido.
É no decorrer da narrativa e ação, com as personagens a descobrirem quais as suas memórias chaves necessárias para um ritual que destrua Pennywise, que damos conta de que ao se terem afastado da cidade, estas esqueceram o que sofreram na infância. Uma vez que o irmão de Bill foi a morte marcante do primeiro filme, o sustendo da memória perde o seu valor, não sendo compreendido como é que um irmão poderia esquecer-se da morte do outro e, sobretudo, os próprios pais. As próprias questões amorosas parecem despoletar muito antes deste confronto com os acontecimentos passados nos esgotos da cidade, anos atrás, o que leva a que o filme perca parte da sua razão lógica.
A banda sonora, contudo, mantem a atmosfera que tão bem capturou na primeira longa-metragem, atribuindo um maior significado a certas cenas e fazendo o telespetador esquecer, por momentos, o como esta “ficção-científica de terror” tinha mais pontos de interrogação do que resposta. O terror iguala-se ao primeiro filme, não dando ao telespetador nenhum momento que seja digno do sentimento de medo ou “respiração suspensa”.
A narrativa conclui com um terceiro ato comparável aos melhores filmes de ficção-científica, mostrando de forma subjetiva como o medo consegue ser moldado, não tendo idade, e a nossa força, crença e voz, conseguem ser a maior arma.
Review overview
Summary
O Capítulo 2 consegue encerrar uma bonita história de amizade, metendo à mistura efeitos históricos por vezes sem nexo ou cabimento.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização