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Homem-Aranha: Longe de Casa [Contém SPOILERS]

de Jon Watts

perfeito

Será que Homem-Aranha: Longe de Casa está longe do já alcançado em outros filmes de super-heróis?

 

ATENÇÃO: O texto contém spoilers

 

Falar de um filme do “Homem-Aranha” na atualidade é uma tarefa penosa, muito por conta das tentativas de adaptação da personagem ao grande ecrã. Questões de direitos à parte, o que é certo é que a parceria entre Sony e Marvel deu um belo resultado com a introdução do aracnídeo no último filme do Capitão América: Guerra Civil (2016). Um resultado expressivo e que gerou a uma integração agora plena da personagem no MCU. Todavia, falar deste filme é um desafio atrevido por ser impossível não mencionar os passados e de como este se sustenta perante um universo tão vasto.

Posto isto, “Homem-Aranha: Longe de Casa” ( de Jon Watts) retrata e dá ao espetador a possibilidade de ver, compreender e pensar sobre como o estalo de Thanos afetou a vida corrente e como a sociedade lidou com isso. Quer seja em questões de idade e/ou momentos de vida, quer com a morte de Tony Stark (Robert Downey Jr.), o filme dá o pontapé de partida para aquilo que é uma jornada para lá de divertida e empolgante. As personagens cresceram e é delicioso ver como o argumento e atores ajudam a criar momentos de verdadeiros adolescentes. Peter (Tom Holland) tenta lidar com a morte da sua grande figura de referência masculina, tentando ultrapassar o trauma da sua perda. Com a ajuda dos seus amigos, a sua tia (Marisa Tomei) e Happy (Jon Favreau), este acaba por tirar uma pausa de ser super-herói para ir de férias pela Europa.

 

A realização e argumento acompanham muito bem estes momentos e o que é lidar com a perda e luto, mas também do que são as primeiras paixões. Peter e MJ (Zendaya) têm momentos fantásticos e que fazem qualquer pessoa se identificar com as personagens. Os diálogos são naturais e o humor um ponto chave no desenrolar da história. A atriz Zendaya faz uma interpretação fantástica desta nova MJ, alimentando o filme com humor e intrigas amorosas que, até então, não tinham sido exploradas em qualquer filme da Marvel. Todavia, se a narrativa e elenco faziam um trabalho fabuloso, os efeitos especiais nas primeiras cenas foram desapontantes, ao terem estragado por completo a armadura metálica que Tony ofereceu a Peter em Vingadores: Guerra Infinita (2018). Este feito consegue, contudo, ser esquecido pela inclusão de Mistério (Jake Gyllenhaal) e dos Elementais (criaturas que nascem dos quatro elementos naturais), figuras provenientes de uma outra Terra e que vieram para a realidade do MCU após o estalar de dedos de Thanos. Com o dilema de querer ser um “rapaz normal” e aproveitar as suas férias e estar com a rapariga de que gosta, Peter vê-se envolvido com diversos dilemas morais e dramáticos, especialmente numa altura em que se sente sozinho, com a única recordação que que Tony lhe deixou serem uns óculos da inteligência artificial mais potente do mundo (EDITH), e a pressão da sociedade que pede um “novo Homem-de-Ferro”.

Peter, e com Nick Fury (Samuel L. Jackson) como ponto de ligação, combate lado a lado com Mistério na tentativa de evitar que o Elemental de Fogo chegue ao núcleo do planeta e o dizime. Com Praga como cenário para a batalha, esta é muito bem coreografada, com movimentos de câmera e efeitos visuais nunca vistos num filme do Aranha. O espetador consegue sentir-se vivo e compreender o que a personagem sente, em especial com uma banda sonora (Michael Giacchino) diferenciadora e que acompanha de forma correta a narrativa. Peter aproveita para estrear um novo fato negro, para proteger a sua identidade americana ao estar na Europa, conseguindo, com sucesso, derrotar com Mistério o Elemental de Fogo, após este último quase se ter sacrificado para o fazer. A ligação com Mistério é intensificada, em que Peter vê nesta personagem uma nova oportunidade para se sentir apoiado e falar do que representa ser um super-herói. A atuação de Jake Gyllenhaal é soberba, intensa e humana, levando a cenas interessantes e que chamam a atenção para o que a solidão e as responsabilidades podem trazer. Nesta ligação, Peter, assustado com o que o mundo lhe pede, dá a Mistério os óculos que Stark lhe tinha dado, acreditando que seria o que o seu mentor quereria para o futuro dos Vingadores e pela sabedoria e trabalho que Mistério tinha mostrado e contado até então.

Neste ponto, as férias de Peter já não poderiam estar mais estragadas, até que ao convidar MJ para passear à noite, esta revela que sabe que é o Homem-Aranha. Apesar de Peter a desacreditar, quando MJ mostra uma peça que retirou da cena de confronto com o último Elemental, Peter compreender que Mistério é, na verdade, um impostor e terá usado tecnologia Stark, como drones e projetores, para encenar tudo. Neste ponto os planos da personagem intitulada de Mistério pelos canais noticiosos são revelados, mostrando um vilão com diferentes tipos de camadas e cujo único objetivo é vingar-se por não ter tido créditos pelo trabalho que desenvolveu quando trabalhou para o falecido Tony Stark. Aqui, novamente, Jake Gyllenhaal revela-nos o porquê de ter sido a escolha para o papel desempenhado, conseguindo criar uma personagem com diversos distúrbios psicológicos e ideias radicais para a sociedade.

O confronto entre Peter e Mistério torna-se desta forma o grande evento do filme, sem qualquer comparação a cena de ação de filmes anteriores da Marvel, Sony ou Fox com personagens das comics. Em certos momentos tornou-se visível a inspiração das figuras de banda-desenhada em criar cenários e momentos de tirar a respiração. A própria sala de cinema metia-se em silêncio de forma a não perder nada do que é dos efeitos especiais e de história mais marcantes de qualquer filme do género. O próprio desenrolar da narrativa e relações pessoais e interpessoais entregaram um desfecho completo e com a consolidação da personalidade das personagens. Tom Holland reafirma-se como uma escolha certeira para representar o cabeça-de-teia, entregando posturas e momentos emocionais diversificados ao longo da narrativa, chegando ao último ato como a pessoa que Tony Stark visionara.

Homem-Aranha: Longe de Casa

 

A forma como o argumento consegue ligar-se aos filmes passados – mesmo antes de qualquer acordo entre Marvel e Sony – torna esta narrativa uma forma excelente de terminar aquela que é a Fase 3 do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU). Porém, as grandes surpresas e pistas para a Fase 4 são as cenas pós-créditos, que trazem o retorno da personagem e prestação mais amada do universo-aranha: o ator J.K. Simmons a repisar o famoso jornalista J. Jonah Jameson, do Daily Bugle. Com o seu ódio de morte à figura do Homem-Aranha, e nos menos de cinco minutos em que aparece, Peter vê a sua identidade completamente comprometida e revelada ao mundo. 

Não deixa de ser curioso este final, coincidente com o momento em que começou o universo da Marvel, com o anúncio de Tony Stark de que era o Homem-de-Ferro (2008), para acabar este capítulo com um anúncio indesejado de uma outra identidade. Será que as pessoas vão acreditar em tudo o que viram? É um grande desafio e uma enorme responsabilidade em inaugurar a Fase 4 após estes eventos, mas acredito que este filme ficará, para sempre, conhecido como dos melhores do Homem-Aranha.

 

Crítica assinada por Diogo Simões, leitor da Take Cinema Magazine e autor dos livros ‘O Bater do Coração’ e ‘Esquecido’

Review overview

Summary

Jon Watts conseguiu deixar uma marca no mundo cinematográfico de super-heróis que nunca mais será esquecida…

Ratings in depth

  • Argumento
  • Interpretação
  • Produção
  • Realização
5 10 perfeito

Comentários