A velhice ataca mesmo as figuras mais abstractas do cinema, e esse parece ser o principal ensinamento a retirar da versão deste ano de Halloween (2018), realizada por David Gordon Green, e com a bênção de John Carpenter.
Com início no filme de 1978, realizado por John Carpenter, Halloween foi-se tornando uma saga da qual já se perdeu a conta às sequelas, remakes e reboots, tanto que sempre que uma nova chega, se faz tábua rasa das anteriores, para que ninguém se confunda. É o que acontece agora no filme por David Gordon Green, que se assume como sequela directa do filme original (portanto nenhum dos outros filmes contam para ele) e que tem o atractivo de colocar de novo a personagem Jamie Lee Curtis no fio da navalha de Michael Myers.
E pergunta-se mais uma vez, há necessidade de mais uma sequela, quando o filme original (e uma ou duas das sequelas dos anos 80, acrescente-se) ainda podem ser revisitadas com tanto prazer (ou medo, dependendo do ponto de vista)? Há sempre a necessidade económica, que tudo tritura e prefere reempacotar em vez de recuperar, claro. E há o interesse de fã de ver como os personagens envelheceram.
Envelheceram mal. Com uma Laurie Strode ainda mais envelhecida que aquilo que Jamie Lee Curtis aparenta, a sofrer uma transformação estilo Sarah Connor (Linda Hamilton) da saga Terminator, isto é, a passar de vulnerável scream queen para musculada GI Jane, e um Michael Myers que, de figura elusiva nas sombras, passa a exibir a sua máscara (também ela cheia de rugas!!) a toda a hora, só porque os fãs a querem ver.
Esse serviço de fãs é, aliás, notório com a repetição de temas só porque sim, como o diagnóstico científico de que lidamos com “mal puro”, o novo médico (Haluk Bilginer), como figura perfeitamente caricatural, apelidado simplesmente de “o novo Loomis” (personagem de Donald Pleasance no filme original). Salve-se a fuga ao jump scare, com a aposta naquilo que é o ADN de Halloween, feita de um perigo silencioso e uma ameaça palpável, onde o vulto de Myers é suficiente para causar calafrios.
Infelizmente tudo isto é envolto num argumento pueril, onde, por exemplo, a “fortaleza” construída por Laurie Strode durante 40 anos para resistir ao previsto regresso de Myers cai como um castelo de cartas ao primeiro sopro; onde o enredo inicial do papel do novo jornalismo feito de podcasts é apenas carne para canhão; e onde a trama familiar envolvendo a descendência da disfuncional Strode se resolve na convicção que ter armas em casa é a solução que todos deveremos abraçar.
Em suma, reciclando a música de John Carpenter, e alguns dos planos icónicos do filme de 1978, o Halloween de David Gordon Green é um repetir de lugares comuns, e preencher de uma checklist para fãs, sem um único sopro de originalidade ou rasgo criativo.
Review overview
Summary
Serviço de fãs feito por encomenda, o Halloween de David Gordon Green mostra como as personagens envelheceram mal, num argumento pobre, que funciona apenas como o relembrar dos factores que fizerem do filme de Carpenter um clássico.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização