Depois do sucesso de Amigos Amigos, Telemóveis à Parte, Paolo Genovese provoca-nos agora com uma alegoria sobre o quão longe estamos dispostos a ir para obtermos o que desejamos.
Um dos mais activos realizadores italianos da actualidade, com sucessos comerciais como o recente Amigos Amigos, Telemóveis à Parte (Perfetti sconosciuti, 2016), Paolo Genovese é um realizador que gosta de brincar com as expectativas do seu público, propondo-lhe cenários provocantes que nos deixam quase como cobaias das experiências sociais que os personagens dos seus filmes parecem ser.
É mais uma vez isso que acontece, num filme que volta a usar as expectativas, desejos, frustrações e desesperos da sociedade actual como mola de uma história que parte da pergunta “até onde estamos dispostos a ir para obter aquilo que mais desejamos?” E para um conflito ético onde hipocrisia social e o mais recôndito do egoísmo humano são trazidos à tona, nada como uma atmosfera alegórica, onde aquele que pode ou não resolver todos os desejos (Valerio Mastandrea) é envolto num mistério que nos faz crer tratar-se de um anjo ou demónio, em missão de avaliação da alma humana, qual Mefistófeles moderno.
Partindo da adaptação da série televisiva norte-americana The Booth at the End (2010), criada por Christopher Kubasik, Genovese arrisca na forma, ao filmar todo o filme num cenário único, o café onde o misterioso homem recebe os seus clientes. Temos então um desfile de personagens, que vemos diversas vezes, quase sempre em curtos diálogos – por vezes breves frases –, em histórias que se intercalam, nas diferentes fases da “transacção” nas quais lhes é pedido que façam algo escabroso (matar alguém, roubar algo, trair alguém) para obterem o que desejam (beleza, amor, sexo, saúde).
O grande triunfo de Genovese começa nessa forma, que teoricamente pode parecer limitada, mas resulta num desvendar ritmado, que é em simultâneo um contínuo provocar, que nos deixa sempre em suspenso à espera de mais. As interpretações fazem o resto – vívidas e convincentes –, num elenco vasto, onde todos (Marco Giallini, Silvia D’Amico, Vittoria Puccini, Vinicio Marchioni, etc), mesmo que com poucos minutos de cada vez, têm espaço para desenhar personagem complexas e nos arrastarem para as suas histórias cheias de ambiguidades, tentações e dúvidas.
Talvez o final seja previsível, mas tal não é importante para o cerne do filme, que é mesmo essas perguntas quase metafísica sobre o que é de facto importante para nós, e até estamos dispostos a ir, e se obtê-lo nos traz a felicidade pretendida.
Review overview
Summary
Filmado num único cenário, numa estrutura tão invulgar quanto estimulante, The Place é o lugar onde desfilam desejos e frustrações, numa provocadora história onde Paolo Genovese nos propõe a pergunta “até onde estamos dispostos a ir para obter aquilo que mais desejamos?”
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização