Segunda longa-metragem de Andrea Pallaoro, Hannah é um veículo para a interpretação primorosa e quase sem palavras de Charlotte Rampling.
Realizado e co-escrito por Andrea Pallaoro, um jovem realizador italiano aqui na sua segunda longa-metragem, Hannah é, acima de tudo, um veículo que se centra, e vive quase completamente da interpretação da veterana Charlotte Rampling, para nos dar um exercício de estilo em que o rosto e corpo de uma actriz pode ser suficiente para nos contar uma história e fazer sentir emoções.
Há, num certo sentido, uma memória do celebrado filme O Filho de Saul (Saul fia, 2015), de László Nemes, que perpassa Hannah. Tal como no filme húngaro, também o filme de Pallaoro ignora narrativa e tudo em volta para nos dar apenas a reacção da protagonista, aqui numa atmosfera mais calma, e sem a aflitiva claustrofobia do filme de Nemes.
Paulatinamente, de situação corriqueira em situação corriqueira, acompanhamos Hannah (Rampling), de quem pouco sabemos. É casada, participa em aulas de teatro, nada numa piscina, limpa a casa de uma senhora de classe alta, sendo amiga do filho desta. Apanha o Metro, espera telefonemas do filho, observa impávida aquilo que a cerca. Mas mais que isso, sabemos que vive oprimida por problemas que não conhecemos. Evita os vizinhos, vai ter que visitar o marido no cárcere, não é bem vista pelo filho. E tudo isto nos surge quase sem palavras, em momentos desconexos, sem explicações, em elipses que não sabemos se demoraram cinco minutos ou cinco meses.
Mas aos poucos vai-nos ficando uma certeza. Nada disso importa. Os factos são irrelevantes, quando já nos sentimos atraídos para a pessoa de Hannah, alguém que luta por uma rotina sã, que age com normalidade para não se deixar abater, que recusa deixar de viver, mesmo que não tenha razões para o fazer. E tudo isto nos chega nos olhares de Charlotte Rampling, nos seus silêncios e suspiros, nas pausas e hesitações. Ou como se disse antes, no rosto, no corpo, e em cada músculo que a actriz move ou não.
Mostrando que interpretar é mais que ser exuberante (por contraste com as aulas que o filme nos dá a ver), Charlotte Rampling faz tudo com quase nada, impressiona sem esforço, comove sem parecer que o tenta, conta uma história pungente, sem quase dizer uma palavra.
É certo que o filme de Pallaoro cedo se torna um objecto de sentido único, mas acima de tudo um exercício de estilo, onde se mostra que basta pouco para se conseguir muito, quando esse pouco é o génio interpretativo de uma actriz como Charlotte Rampling.
Review overview
Summary
Filme de sentido único, Hannah é Charlotte Rampling a mostrar-nos que basta um rosto, o uso do silêncio e do corpo para se poder contar uma história emotiva, desprovida de dramatismos ocos.
Ratings in depth
-
Argumento
-
Interpretação
-
Produção
-
Realização