Quem ainda pensa que a animação é um mundo infantil irá surpreender-se com o ácido e noir Gatta Cenerentola, uma versão revista do conto de Cinderela.
Quando pensamos em longas-metragens de animação, pensamos automaticamente nos grandes estúdios americanos. Felizmente ainda vão surgindo propostas diferentes, e esse é o caso de Gatta Cenerentola (2017), filme realizado pelo quarteto Alessandro Rak, Ivan Cappiello, Marino Guarnieri e Dario Sansone, onde apenas o primeiro assinara já uma longa-metragem de animação, L’arte della felicità (2013), com todos eles a darem os primeiros passos, por entre curtas e séries de televisão.
Adaptando livremente o conhecido conto Cinderela, aqui na versão do napolitano Giambattista Basile, por nós conhecida como A Gata Borralheira, o quarteto de realizadores traz-nos uma história noir, pouco consentânea com os cenários sugeridos pelo clássico infantil.
Nela, a jovem Mia é um joguete nas mãos de Salvatore Lo Giusto (Massimiliano Gallo), que matou o seu pai (Mariano Rigillo) depois de o fazer casar com a sua amante Angelica (Maria Pia Calzone), para tornar o império tecnológico daquele numa base para a sua capital do crime. Vivendo reclusa e torturada por seis irmãos, a muda Mia tem um anjo da guarda, Gemito (Alessandro Gassman), antigo guarda-costas do pai dela, e agora trabalhando com a polícia.
Com cenas de acção que piscam o olho à animé japonesa, Gatta Cenerentola consegue um aspecto original, fruto da técnica computorizada aplicada ao modo de filmar motion capture. A isto alia-se a cenografia noir, num decrépito retro-futurismo que mostra uma Nápoles que namora a tecnologia avançada e inovações holográficas – que vão surgindo quase aleatoriamente como fantasmas que pontuam momentos das vidas dos personagens –, mas que odeia o progresso e não se solta do seu destino de capital do crime, marcada por uma banda sonora que surge com função narrativa, do canto napolitano ao jazz.
Mesmo com uma história simples e, na sua base, perfeitamente conhecida, o resultado é bastante inovador, e uma provocação a vários níveis, do apontar dos problemas criminais em Nápoles ao tocar num clássico sagrado da cidade (mais sagrados só mesmo a pizza e a ópera), e por mostrar que a animação não é apenas um domínio do cinema infantil.
Review overview
Summary
Mesmo numa história conhecida, e num filme que talvez funcione mais como exercício de estilo, o napolitano Gatta Cenerentola é uma proposta de animação inovadora, de ambientes e soluções originais a que vale a pensa dar uma olhadela ou mais.
Ratings in depth
-
Argumento
-
Interpretação
-
Produção
-
Realização