Sete anos depois de se dar a conhecer ao mundo em O Artista (2011), Jean Dujardin volta a mostrar como se dá credibilidade a um papel cómico, mesmo num filme pouco credível.
Realizado e escrito a meias por Benoît Delépine e Gustave Kervern, I Feel Good (2018) é uma comédia que, ao jeito francês, tenta aligeirar, ao mesmo tempo que nos dá a conhecer, uma situação social deveras importante e comovedora. Esta é a obra do já falecido sacerdote católico Abbé Pierre, que dedicou a sua vida a ajudar os mais desfavorecidos, primeiro contra as consequências da guerra, e depois contra as do capitalismo da sociedade pós-moderna, que deixa todos os dias muitas pessoas caírem em extremos de dificuldades financeiras e sociais. Abbé Pierre viria a fundar, em 1949, o Movimento Emaús (hoje presente em várias dezenas de países), que procura reabilitar pessoas que tudo perderam, em comunidades de trabalho sem fins lucrativos.
É uma dessas comunidades que está no centro do enredo de I Feel Good, quando o burlão Jacques Pora (Jean Dujardin) decide usar a presença da sua irmã Monique (Yolande Moreau) como uma das principais responsáveis pelo projecto, para se aproveitar das debilidades psicológicas dos outros presentes, explorando-os num novo negócio, daqueles que ele inventa diariamente com vista ao lucro. É que Jacques nunca trabalhou um dia na sua vida, saltando de esquema em esquema, sempre convencido que merece o melhor do mundo, e que os seus golpes patéticos um dia irão resultar.
Assim, o seu novo plano é levar alguns dos trabalhadores do projecto Emaús, para a Bulgária, onde, entregando-os a uma clínica estética de fama pouco recomendável, conta enriquecer prometendo-lhes que os transformará celebridades de capas de revistas.
Com alguns gags visuais interessantes (a perspectiva da piscina, por exemplo) e uma interpretação irrepreensível de um Jean Dujardin que parece acreditar piamente no que está a fazer, I Feel Good depressa cai no patético, auto-parodiando-se em exagero, usando referências políticas como clichés fáceis, e vendo a sua história desagregar-se à medida que esta tenta ganhar consistência, na necessidade de trazer uma mensagem de vida (“somos mais felizes com o pouco que temos do que com o muito que gostaríamos de ter”) que transforma o filme em algo para o qual ele não foi dotado.
De positivo fica, no entanto, o enorme elogio às comunidades Emaús, num filme que parece genuinamente quer fazer sentir-nos bem.
Review overview
Summary
Tendo de positivo mostrar o exemplo das comunidades Emaús, I Feel Good prova-nos como Jean Dujardin está à vontade em qualquer papel, mesmo num filme que cedo se perde numa auto-paródia excessiva que dilui uma história de objectivos simples.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização