Um velho e um rapaz, uma árvore. É essa a premissa do novo filme de André Gil Mata, que após estudar sob a direcção de Béla Tarr em Sarajevo, tenta aqui imitar o mestre húngaro – claramente após ter visto O Cavalo de Turim repetidas vezes antes de se lançar atrás das câmaras.
A obra do cineasta húngaro não é para todos os gostos, e A Árvore, que copia e expande na ideia de cinema lento e observacional de Tarr, recusando edição e obrigando-nos a penar atrás de personagens sem explicação ou contexto, é também e por conseguinte, divisiva. Com uma narrativa cujo conteúdo mal chega para encher um videoclipe, aos quinze minutos de imagem é-nos dado o título, e apenas nos quinze minutos finais nos é dado o primeiro – e último – diálogo do filme. O resto do tempo é passado sobretudo a seguir o Velho (Petar Fradelic), que recolhe garrafas de vidro de uma pequena povoação em que não se vê uma única alma, pisando a neve (cronch cronch cronch), na companhia do seu cão, e a remar o seu barco num rio gelado. Entretanto, o Rapaz (Filip Zivanovic) após uma cena inicial de paz doméstica, foge de soldados alemães e acaba a dormir debaixo da dita árvore do título.
Sem banda sonora ou qualquer instância de música, o desenho sonoro é, definitivamente, um dos elementos mais bem conseguidos do filme – os detalhes do tiquetaque do relógio da sala, as garrafas que tilintam umas contra as outras, a respiração dos nossos protagonistas. Infelizmente, não será talvez o suficiente para prender a atenção neste lento desenrolar de rotinas monótonas em tempo real. Até a cinematografia de João Ribeiro, geralmente brilhante ao serviço do documentário, peca aqui por uma excessiva estilização, a que não será indiferente o facto de a maior parte do filme parecer ter sido filmada day for night.
É relativamente fácil perceber que estamos nos Balcãs (no Alentejo não é de certeza), que o rapaz lida com a Segunda Guerra Mundial e o velho com a guerra da independência bósnia, e que eles são – spoiler alert – a mesma pessoa em momentos históricos diferentes. A revelação vem, contudo, acompanhada de um diálogo pseudo-metafísico extremamente desapontante, ainda mais por todo o tempo que fomos obrigados a esperar por algo acontecesse, sem o desanuvio de outras personagens (as únicas, nas margens, são a mãe no início e as sombras e vozes dos soldados alemães na floresta).
Apesar de nomeada para Melhor Primeira Longa Metragem em Berlim (e vencedora do prémio de melhor realizador na competição nacional do Indie Lisboa), A Árvore é apenas a sombra da obra de um cineasta maior. Haverá quem ache o filme hipnótico, simbólico, prenhe de significado. Para nós, é apenas a tentativa de um realizador que, esperamos, um dia tirará as rodinhas de treino da bicicleta e ousará cantar sem playback.
Review overview
Summary
Com fortes reminiscências do mentor Béla Tarr, a nova longa-metragem de André Gil Mata contrapõe períodos históricos numa narrativa experimental e simbólica que não consegue cativar.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização