Tanto no início como no final de “Westwood: Punk, Icon, Activist” encontramos Vivienne Westwood a exibir algum desconforto ou a apresentar um certo cepticismo em relação aos planos e ideias da realizadora Lorna Tucker para o documentário. Ao entrarmos na página do IMDB do filme somos colocados perante a informação de que a estilista esteve longe de apreciar a obra, algo expresso na sua conta do Twitter: “Lorna Tucker asked to film Vivienne’s activism and followed her around for a couple of years, but there’s not even five minutes activism in the film, instead there’s lots of old fashion footage which is free and available online. It’s a shame because the film is mediocre, and Vivienne and Andreas are not“. O que não surpreende. Embora contenha informação digna de algum interesse sobre o percurso de Vivienne Westwood, o documentário apresenta uma estrutura algo convencional e pouco estimulante, com estas características a contrastarem de maneira gritante com a primeira. É o “documentário Wikipedia”, que procura dizer um pouco de tudo e muitas das vezes acaba por não aprofundar nada, embora a espaços até consiga prender a atenção e expor a relevância da protagonista. No entanto, sabe a pouco, sobretudo quando estamos diante de uma fita sobre uma figura tão icónica e provocadora como Vivienne Westwood.
Com uma mescla de entrevistas à estilista e a alguns elementos que contactam regularmente com a mesma, vídeos de arquivo (tais como trechos de desfiles), fotografias e momentos filmados durante a elaboração do documentário, “Westwood: Punk, Icon, Activist” aborda diversos episódios de relevo da vida da grande dama do Punk Rock, sejam estes relacionados com a sua curta presença na Faculdade de Arte de Harrow, o casamento e divórcio com Derek Westwood, a união com Malcom McLaren (que viria a ser o seu sócio) e o início da caminhada no mundo na moda (através de uma loja que mudou imensas vezes de nome), as roupas para os Sex Pistols e o seu papel de relevo para a cultura punk. Lorna Tucker inclui ainda elementos sobre a ida da artista para Viena, a colaboração com Andreas Kronthaler (aluno desta e futuro esposo), os revezes, a troça da crítica, o reconhecimento e o sucesso ao ponto desta procurar controlar o crescimento da sua marca, entre outros acontecimentos. Diga-se que as tentativas que a estilista efectua para impedir que a marca fuja ao seu controlo permitem sublinhar a personalidade vincada e os fortes valores desta figura e surgem como alguns dos elementos mais interessantes de “Westwood: Punk, Icon, Activist”.
Mais do que estar preocupada em expandir o seu produto, Vivienne tenta manter os padrões de qualidade e o seu cunho em tudo aquilo que tem o seu nome. Esse lado controlador da estilista é particularmente visível quando a encontramos a reclamar com uma das colaboradoras devido a uma peça de roupa não ter sido confeccionada de acordo com aquilo que tinha sido idealizado, ou durante os mencionados protestos junto da realizadora Lorna Tucker. A cineasta a espaços exibe algum talento para escolher os trechos de imagens de arquivo que insere no interior do filme. Observe-se o diálogo entre o pedaço do programa Wogan with Sue Lawley em que as roupas de Vivienne são alvo de troça e os vídeos da protagonista a receber o prémio British Designer of the Year em 1990 e 1991, um contraste que permite expor a capacidade da estilista para quebrar barreiras e vencer desafios. Essa propensão para mexer com as mentalidades, desafiar o sistema e as regras remete para a sua faceta punk, com as obras da artista a reflectirem e muito a sua personalidade, um pouco à imagem da sua perícia para tornar os desfiles em momentos disruptivos, algo exposto ao longo da película.
Embora boa parte das atenções estejam centradas em Vivienne Westwood, o documentário concede ainda alguma importância aos elementos que se encontram próximos da primeira. Note-se o caso de Andreas Kronthaler, uma figura de enorme relevo na vida profissional e pessoal deste ícone, ou Carlo D’Amario, o CEO da estilista, um elemento central para a marca. Ao longo do filme ficamos ainda diante da faceta activista de Vivienne Westwood, seja através das mensagens que esta coloca nas suas criações, ou dos seus actos e discursos em eventos públicos. Observe-se o momento em que a encontramos no cimo de um tanque vestida como se fosse um militar em protesto contra o fracking, ou a explanar a sua preocupação sobre o aquecimento global. O título de “Westwood: Punk, Icon, Activist” remete exactamente para estas diferentes facetas de Vivienne Westwood. Com maior ou menor inspiração, mais ou menos aprofundamento das temáticas, Lorna Tucker consegue exibir essas vertentes desta figura provocadora e talentosa que mexeu com as mentalidades do seu tempo e continua a deixar marca.
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"Documentário Wikipedia" que procura dizer um pouco de tudo e muitas das vezes acaba por não aprofundar nada, embora a espaços até consiga prender a atenção e expor a relevância da protagonista.
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